quinta-feira, 3 de julho de 2008

Tungue

A cultura energética permanente para o sul do Brasil poderá ser esta planta pelas suas características e produtividade como pode ser observado abaixo.

No restante do Brasil temos o pinhão-manso despontando como uma grande alternativa para o biodiesel, tendo problemas com geadas o pinhão poderá não ser interessante para o sul. Já o tungue é uma planta que precisa de frio.

A Planta
Tungue é o nome comum de duas espécies de árvores de pequeno porte da família Euphorbiaceae, Aleurites fordii Hemsl. e A. montana (Lour.) Wils. (com propostas para reclassificação como Vernicia fordii e V. montana segundo Ling et al.,1995). Essas espécies são cultivadas com objetivo de produzir sementes das quais se extrai, por prensagem e com o uso de solventes, um óleo denominado "óleo de tungue", internacionalmente conhecido como “tung oil” ou “wood oil” (“óleo de madeira”). Esse produto é utilizado principalmente na indústria de resinas e tintas, tendo como principal característica sua secagem rápida.

O tungue é nativo da Ásia, onde é cultivado predominantemente na China. É plantado comercialmente também na América do Sul, nos Estados Unidos e na África. "Tung" significa na língua chinesa "coração", nome inspirado no formato das folhas dessas plantas.

Segundo Vaughan (1970) as sementes de A. fordii possuem em torno de 33% de óleo. Esse óleo contém uma alta percentagem de ácido oleosteárico, sendo o único óleo vegetal produzido comercialmente que possui esse componente, ao qual é atribuída a alta qualidade do tungue como óleo de secagem rápida. List & Horhammer (apud Duke, 1983) afirmam que os teores de óleo na semente podem variar entre 30 e 40%, sendo esse composto por 75-80% de óleo alfa-esteárico, 15% oléico, 4% palmítico e 1% ácido esteárico. Taninos, fitoesteróis e uma saponina tóxica também são encontrados.

A torta de tungue, resíduo composto pelas sementes de tungue sem a testa, após a extração do óleo, possui em torno de 25% de proteína bruta, sendo tóxica para animais e utilizada somente como fertilizante (Vaughan, 1970).

A espécie cultivada na região colonial da Serra do Nordeste, no Rio Grande do Sul, é a A. fordii, de porte um pouco menor que A. montana e também mais rústica e adaptada ao clima frio.

Cultivo
O sistema de cultivo do tungue no RS é extensivo. As plantas são distribuídas em meio a pastagens e aproveitando áreas impróprias para culturas anuais. A colheita é realizada à medida que os frutos, contendo de quatro a cinco sementes, caem no chão. Em geral, são necessárias duas ou mais operações de colheita, pois a maturação do tungue não é uniforme. Antes da comercialização, o
material é colocado em sacos e deixado para secar em galpões, até alcançar umidade abaixo de 30%. Esse processo leva duas ou mais semanas e é realizado pelo produtor. A produtividade alcançada nos cultivos norte-americanos é de 4.500 kg a 5.000 kg de frutos por hectare (Duke, 1983). Segundo o IBGE (1996), a área cultivada no Rio Grande do Sul era de 365,37 hectares, com uma produtividade média alcançada de 3.719 kg de frutos por hectare.

No Brasil o cultivo é realizado predominantemente em pequenas propriedades com economia baseada na exploração da mão-de-obra familiar. Conforme dados do IBGE, em 1996 a totalidade da produção foi oriunda de propriedades com menos de 100 hectares e 74% do tungue no Rio Grande do Sul (RS) tiveram origem em propriedades com menos de 50 ha.

Reitz (1988) descreve A. fordii como árvore caducifólia de 3 a 9 metros de altura com ramos robustos, glabros, com superfície lenticelada e folhas glabras, ovadas ou cordadas de 7 a 12 cm de comprimento. Segundo esse autor, as flores do tungue aparecem antes das folhas, após o período de dormência hibernal, com pétalas brancas com estrias roxas e oito a dez estames.

Segundo Barroso et al. (1999), os frutos (FIGURA 2) são do tipo drupóide, com pericarpo nitidamente diferenciado em epicarpo, mesocarpo e endocarpo. O epicarpo e o mesocarpo têm consistência fibrosa. O endocarpo tem textura coriácea, apresentado o espaço central dividido em falsos septos transversais, formando, em geral, quatro a cinco câmaras (podendo variar de uma a quinze), cada uma com uma semente.

Produção
O sistema de produção do tungue no RS difere do sistema norte-americano, descrito em Duke (1983). Nas propriedades da Serra Gaúcha, as mudas são produzidas sem enxertia, muitas vezes a partir de plantas espontâneas, oriundas de frutos não colhidos que ficaram sob as árvores de produção. Não são também realizadas adubações e o custo direto se resume aos serviços de roçada sob as árvores, à colheita e ao ensacamento para a pré-secagem.

Essa forma de cultivo resulta em menor produção por planta e em mais baixo teor de óleo no fruto. Assim, mesmo com o reduzido custo, o cultivo dessa planta tem se mostrado de menor rentabilidade em relação à fruticultura, olericultura e atividades agroindustriais, que concorrem na ocupação da mão-de-obra na região tradicional de cultivo.

A planta de tungue apresenta resistência a pragas e moléstias nas nossas condições ambientais e seu fruto é um produto de fácil armazenagem. O tungue é um cultivo perene de baixo custo de manutenção se comparado com a fruticultura. Essas características sugerem seu cultivo como alternativa de renda para grupos de pequenos produtores com dificuldade de inserção no mercado de produtos hortícolas, com solos impróprios para cultivos anuais e com disponibilidade de mão-de-obra.

A sua produção pode ser enquadrada em um sistema sustentável de agricultura, definida em Gliessman (2000) como "aquela agricultura que reconhece a natureza sistêmica da produção de alimentos, forragens e fibras, equilibrando, com eqüidade, preocupações relacionadas à saúde ambiental, justiça social e viabilidade econômica, entre os diferentes setores da população”. Há, no entanto a necessidade de investimento na pesquisa de variedades mais produtivas e de aperfeiçoamento nas técnicas de cultivo.

Fonte: RESÍDUO AGRO-INDUSTRIAL “CASCA DE TUNGUE” COMO COMPONENTE DE SUBSTRATO PARA PLANTAS - Cirilo Gruszynski, Engenheiro Agrônomo / UFRGS

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