sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Biodiesel de gordura humana

O departamento de Saúde do Estado da Califórnia, nos Estados Unidos, está investigando o caso de um médico que teria usado a gordura retirada das pacientes durante procedimentos de lipoescultura como combustível para seus carros, segundo informações da revista Forbess.

A gordura, tanto animal quanto vegetal, contém triglicerídeos que podem ser extraídos para a produção de biodiesel.

O esquema do médico, que transformava a gordura retirada de seus pacientes em biodiesel para o seu carro - um Ford SUV - veio à tona durante outra investigação, de reclamações feitas por pacientes contra procedimentos cirúrgicos da clínica.

A clínica de Alan Bittner, chamada Beverly Hills Liposculture, funcionava na famosa cidade americana nos arredores de Los Angeles, considerada a "capital mundial da cirurgia plástica".

Ainda não está claro como Bittner transformava a gordura extraída em lipoaspirações em biodiesel - mas nos Estados Unidos e em outros países é cada vez mais comum a busca por alternativas como óleo usado de cozinha ou banha animal para a produção do biocombustível.

Em um site dedicado à promoção da reciclagem da gordura de suas pacientes,Bittner defende a idéia: "A grande maioria das minhas pacientes pedem que eu use a gordura retirada delas como combustível - e eu tenho mais gordura do que preciso usar. Não apenas elas perdem a barriguinha, mas também fazem sua parte em salvar o planeta".

Segundo a Forbes, usar gordura para alimentar motores de carros "pode ser ecologicamente defensável, mas é ilegal na Califórnia usar resíduos humanos hospitalares como combustível".

No website da clínica de Bittner, um comunicado avisa as pacientes sobre o fechamento da clínica, no dia 20 de novembro. Na nota, o médico diz que decidiu fechar o consultório porque teria resolvido trabalhar como voluntário na América do Sul.

Em outras páginas na internet, fóruns de discussão trazem comentários e reações de pacientes com o fechamento da clínica.

Uma delas afirma: "Honestamente, o que realmente mexeu comigo, acima de tudo é que parece que ele usava nossa gordura para fazer biodiesel. Como a cena do filme Clube da Luta, não é?", comenta.

No filme, o personagem Tyler Durden, interpretado por Brad Pitt, rouba gordura de clínicas de lipoaspiração para fazer sabonetes, vendidos por ele em lojas de departamento de luxo.

Fonte:

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Quem é o vilão?

Fica claro que não se trata apenas de uma questão de evitar a fome mundial, mas de um verdadeiro pânico e contra-ataque diante da ameaça do biocombustível brasileiro.

Desde a época do Pró-álcool nunca se falou tanto sobre etanol. Na década de 1970, o combustível foi a salvação da primeira grave crise energética enfrentada pelo Brasil. Aos poucos, o petróleo retomou seu posto e o pobre combustível tupiniquim foi relegado a uma quase nobre insignificância, já que um herói, mesmo que enfraquecido, nunca deixaria de ser um herói.

Naturalmente, tratava-se apenas do primeiro round. As reservas naturais de petróleo já começam a dar sinais de cansaço, o preço do barril se eleva a cada pregão das bolsas, o que eleva ainda mais o preço na bomba para o consumidor, que é quem paga a conta. Todas essas peças já comporiam um cenário mais que perfeito para o surgimento de uma via alternativa, mas não bastou. Com mudanças bruscas na temperatura do planeta e fenômenos naturais que assolam cidades inteiras, o meio ambiente dá sinais de que algo precisa mudar, e rápido.

Como em todas as histórias de bandidos e mocinhos, por diversas vezes o mocinho é interpretado como um oportunista, que lança mão da desgraça alheia para agregar valor ao seu poder. Com o etanol não poderia ser diferente. A bola da vez foi a crise dos alimentos e declarações sem qualquer fundamentação técnica publicadas na imprensa mundial tentaram em vão fazer uma relação direta entre a produção de biocombustíveis e o aumento do preço dos alimentos.

Há inúmeros fatos que refutam completamente tais afirmações. Em primeiro lugar, há uma crescente demanda no consumo de alimentos, impulsionada por países como China e Índia, concomitante a um aumento da população mundial e a uma elevação de renda dos países emergentes. Para se ter uma idéia, nos últimos 200 anos a população mundial saltou de 957 milhões para 6,7 bilhões de pessoas. E a projeção é de que em 2050 o mundo tenha nada menos que 9 bilhões de habitantes. Com o crescimento populacional aumenta também o desafio de se produzir mais para alimentar tanta gente. Em 2001, por exemplo, a China consumia por ano 450 milhões de toneladas de cereais. No ano passado, esse número saltou para 513 milhões de toneladas.

Outro ponto que sem dúvida interfere nos custos dos alimentos é o preço do petróleo que, segundo analistas do setor, deve chegar em breve à casa dos 200 dólares o barril. A explicação é simples. O petróleo é utilizado como matéria-prima para grande parte dos combustíveis utilizados no maquinário agrícola, no transporte de alimentos e na produção de fertilizantes. Talvez nem precisassem ser citadas as diversas barreiras tarifárias impostas aos mais variados insumos alimentícios em todas as partes do mundo. Ou seja, os custos para produção de alimentos tiveram uma grande elevação.

Entre tantas provas de que o etanol não é o vilão desta história, ouvi o mais interessante argumento dito por um produtor de biodiesel em um evento do qual participei em Nova Iorque. “Na Somália, por exemplo, um dos graves problemas é a falta de arroz. Até onde sabemos, hoje não há nenhum biocombustível sendo feito a partir do arroz, nem tampouco os biocombustíveis deslocam áreas de plantio de arroz”.

Tantos argumentos só justificam o que o mundo inteiro já viu. Hoje são consumidos em torno de 1 trilhão de litros de gasolina/ano. Caso fossem adicionados ao combustível 25% de etanol, seria criado um mercado de 250 bilhões de litros de etanol/ano. Para se ter uma idéia, hoje a produção brasileira representa menos de 25 bilhões de litros/ano. Contudo, de acordo com a Agência Internacional de Energia (AIE), 25% de toda a frota de veículos no mundo poderão ser movidos a etanol até 2050.

Naturalmente, utilizar o argumento que incrimina o etanol de milho e o combustível da cana funcionaria como um belo susto àqueles que pensavam em investir maciçamente nesse setor. Mas essa argumentação durou pouco e não funcionou. Ao contrário, os investimentos externos nesse setor nunca foram tão intensos. De acordo com um estudo divulgado recentemente pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), os investimentos externos diretos nas atividades agrícolas cresceram mais que em outros setores da economia, como indústria e serviços. Nos últimos sete anos houve um aumento de 500%, de 2,3% para 13,8% do total de investimentos.

A vantagem do Brasil está latente, para quem tiver interesse em ver. O potencial do país pode conduzi-lo ao papel de um dos mais importantes players desse mercado, afinal, projeções indicam que o país deve liderar o mercado As condições são ideais em todos os sentidos. Maior fronteira agrícola do mundo, com terras férteis e vasta área para o cultivo, clima e relevo adequados, know-how que vem evoluindo desde o Brasil colonial e um forte aporte de investimentos externos.

O setor sucroalcooleiro no Brasil vem se preparando para um novo patamar de crescimento, com uma maior profissionalização na gestão das usinas, diversificação de investimentos como a co-geração de energia elétrica a partir do bagaço da cana-de-açúcar, busca constante por inovações tecnológicas no canavial, movimento de fusões e aquisições, abertura de capital, processo de Governança Corporativa, entre outras práticas que dão credibilidade ao mercado. Fica claro, assim, que não se trata apenas de uma questão de evitar a fome mundial, mas de um verdadeiro pânico e contra-ataque diante da ameaça do biocombustível brasileiro. Para quem não acreditava no Brasil, observe os heróis e guerrilheiros angustiados com o canto do Macunaíma.

Marcelo Schunn Diniz Junqueira
Marcelo Schunn Diniz Junqueira é engenheiro agrônomo e CEO da Clean Energy Brazil.

Fonte: Clean Energy Brazil

Do:

Brasil, algas e biodiesel: uma aposta que pode gerar riqueza

Quando Rudolf Christian Karl Diesel inventou o motor a combustão em 1897, desenhou-o para funcionar com óleos vegetais, como o de amendoim.

A história demonstra, portanto, que o interesse pela utilização do biodiesel não é novo. Entretanto, à época, por ser mais barato e mais fácil de produzir, o óleo feito a partir do petróleo ganhou o mercado e foi “batizado” com o sobrenome de Diesel.

Atualmente, calcula-se que o consumo mundial de diesel gira em torno de 684 milhões de toneladas, com potencial de crescimento de 8% ao ano. Já a produção mundial de biodiesel representa 0,035% do mercado, ou seja, 2,4 milhões de toneladas. Com o preço do petróleo atingindo patamares proibitivos, principalmente pelo efeito cascata que provoca em cadeias de produção dependentes de seus derivados e de seu freqüente uso como arma econômica, questiona-se a opção feita no passado e cada vez mais se aproxima ou retorna-se ao ponto de partida de Rudolf Diesel.

Pesquisas recentes indicam que a produção de biodiesel a partir de microalgas poderá mudar radicalmente o mercado de combustíveis. Com potencial de produção de óleo muito superior por área equivalente de cultivo do que as culturas tradicionais produzidas em terra e utilizadas na produção do biodiesel, as microalgas despertaram o interesse mundial e as pesquisas e estratégias dos investidores são, em sua maioria, mantidas em segredo. Enquanto a soja produz de 0,2 a 0,4 toneladas de óleo por hectare, o pinhão manso produz de 1 a 6 toneladas de óleo por hectare e o dendê, de 3 a 6 toneladas de óleo por hectare. Alguns, mais otimistas, afirmam que com um hectare de algas pode-se produzir 237 mil litros de biocombustível; outros, mais contidos, informam que em uma superfície equivalente a um hectare semeado com alga pode-se produzir 100.000 litros de óleo.

Sendo possível cultivá-las em água salgada ou doce em ambiente que disponha de calor e luz abundantes, é inegável que o Brasil possui condições ideais para a produção de microalgas, em especial na Região Nordeste. De cultivo simples, as microalgas podem ser produzidas em tanques abertos com profundidade de pouco mais de 10 cm e alimentadas, por exemplo, com dejetos de suinocultura e águas residuais de esgotos. Além disso, sua produção não requer uso de adubos químicos; sua massa pode ser duplicada várias vezes por dia; a colheita pode ser diária; o cultivo pode ser realizado em zonas áridas e ensolaradas, inclusive em regiões desérticas; trata-se de uma matéria-prima não alimentícia e sustentável; e seu cultivo em tanques com água do mar minimiza o uso de terra fértil e água doce potável. Sem dúvida, um achado.

Atentos ao movimento mundial, empresas públicas e privadas e o Governo brasileiro estão investindo no desenvolvimento da produção de biodiesel a partir de microalgas. Exemplos são a parceria entre a Petrobras, a Universidade Federal de Santa Catarina e a Universidade Federal do Rio Grande, e o recente edital publicado em conjunto pelos Ministérios da Ciência e Tecnologia e da Pesca e Aqüicultura e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq. O Edital nº 26/2008, de 11 de agosto de 2008, é o primeiro que tem como objeto o apoio a projetos de pesquisas que contemplem a aqüicultura e uso de microalgas como matéria-prima para a produção de biodiesel e tem previsão de repasse de R$ 4,5 milhões por meio do CNPq. Segundo o Edital, serão admitidos projetos que englobem todo o processo de produção e transformação em temas como: desenvolvimento de técnicas de cultivo de microalgas de baixo custo e que visem a produção de óleo como matéria-prima para a produção de biodiesel; estudos de potencial de cepas de microalgas; avaliação da viabilidade econômica do processo global do cultivo à obtenção de biodiesel; processos mais econômicos e eficientes do que os convencionalmente usados para a coleta de microalgas e extração do óleo para a produção de biodiesel. As propostas poderão ser apresentadas até o dia 25 de setembro, os resultados serão divulgados a partir de 27 de outubro e os contratos firmados a partir de 1º de dezembro.

Como resultado da soma do crescimento da demanda por biodiesel no Brasil, estimulada pela publicação da Lei nº 11.097, de 14 de janeiro de 2005, que dispõe sobre a introdução do biodiesel na matriz energética brasileira, com as condições climáticas e territoriais favoráveis à produção de algas no Brasil, têm-se condições apropriadas para o investimento em pesquisas, inovação e a instalação de novas plantas industriais para produção de biodiesel nas mais variadas regiões do país. Cenário que pode tornar o Brasil um país ainda mais atraente para os investidores interessados na produção de biocombustíveis, tanto para uso no mercado interno quanto para a exportação.

Investidores certamente não faltarão. O uso das algas como matéria-prima para produção de biocombustíveis vem sendo pesquisado em países como Japão, Estados Unidos da América, Israel, Alemanha, Portugal, Suíça, Argentina e Espanha. Exemplo de investimento é o anúncio feito pela Royal Dutch Shell e HR Biopetroleum, informando a construção de uma planta-piloto na costa de Kona, no Havaí, com o objetivo de cultivar algas marinhas e produzir óleo vegetal para conversão em biocombustível.

Importante observar que o litoral brasileiro, que é banhado pelo Oceano Atlântico, do Arroio Chuí ao Cabo Orange, possui 9.198 Km quando consideradas suas saliências. Além disso, a maior bacia hidrográfica do mundo, com 7.050.000 km² é a Bacia Hidrográfica Amazônica, que a ela podemos somar as Bacias do Rio São Francisco, dos Rios Tocantins e Araguaia e do Rio da Prata.

Efetivamente, caso a corrupção, a insegurança jurídica e a burocracia não atrapalhem esse promissor segmento, a economia nacional muito poderá se beneficiar.

Reginaldo Minaré
Advogado e Diretor Jurídico da ANBio

Fonte: Grupo Cultivar

Do:

Microalgas podem produzir 100 vezes mais biocombustível do que a soja

RIO - Na busca por fontes de energia menos poluentes e mais econômicas, pesquisadores brasileiros dão um grande passo ao mostrar a eficiência das microalgas, encontradas no litoral brasileiro, como matéria-prima para produzir biodiesel. A pesquisa, desenvolvida pelo Instituto de Biologia da Universidade Federal (UFF), sugere que as algas têm capacidade de gerar 90 mil litros de óleo por hectare ao ano, enquanto a soja, principal base do biodiesel do Brasil, produz apenas 500 litros por hectare. Além disso, as algas ajudam a combater o efeito estufa, uma vez que precisam de dióxido carbônico (CO2) para se reproduzirem.

– O projeto de tornar algas em biomassa é visto, hoje, como algo promissor. Uma das razões é o alto valor do petróleo, que esse ano chegou a atingir US$ 140 o barril. A diminuição do preço de custo de produção do biodiesel também contribuiu. E, atualmente, há uma extrema preocupação em retirar carbono da atmosfera – explica Sergio Lourenço, do Departamento de Biologia Marinha da UFF, responsável pelo estudo.

A alternativa também não encontra obstáculos na agricultura. As microalgas são cultivadas em água e, como não possuem raíz, nem caule, demandam um espaço pequeno para se reproduzirem. Além disso, crescem mais rápido que qualquer outra planta. Num espaço equivalente a um hectare, por exemplo, as algas têm capacidade de produzir 100 vezes mais óleo que a soja.

– Em matérias-primas como soja e amendoim só é aproveitado um pedaço pequeno da planta, ou só o fruto, para gerar óleo. Já nas algas, todas as células são aproveitadas por isso a produção é alta – avalia Lourenço. – Não é preciso desmatar áreas para cultivá-las. E não entra em atrito com a produção de alimentos, já que ninguém come algas.

Antonio José Maciel, professor da faculdade de engenheira agrícola da Unicamp, diz que, mesmo o projeto estando em fase laboratorial, mostra-se promissor.

– É algo que poder ter alto potencial. Nosso país tem grandes condições de produção devido ao clima e à água, mas é preciso um programa de pesquisa que dê resultados para, assim, receber investimentos – afirma Maciel.

Embora os benefícios do biodiesel de algas prevaleçam, há questões que dificultam o investimento de instituições. Além do cultivo ser trabalhoso, e portanto, demandar uma equipe especializada – não pode ser elaborada por agricultores – precisa ainda de investimentos em pesquisas.

– A soja não precisa mais ser pesquisada, e já existem os particulares que a cultivam e vendem. Já o processo de produção de algas exige alto investimento. A separação das células que serão convertidas em biodiesel demanda muito recurso – confessa Lourenço. – O biodiesel de algas ainda não é viável, mas acredito que em cinco anos já vamos ter produção comercial em escalas grandes.

Redução de custos

A Petrobras também desenvolve, desde 2006, pesquisas com esse tipo de matéria-prima. Segundo a instituição, os próximos passos do projeto serão produzir maior quantidade de biomassa e aumentar o volume da produção de biodiesel de microalgas.

– Nosso maior desafio é buscar a redução de custos, o ideal seria reduzir bastante os gastos, o que só seria possível com tecnologia de ponta aplicada ao processo – avalia o oceanógrafo Leonardo Bacellar, pesquisador do Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de Mello (Cenpes) da Petrobras.

Fonte:

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Cientistas produzem diesel com restos de café

Em uma pesquisa que combina duas das grandes obsessões dos norte-americanos - café e automóveis - cientistas da Universidade de Nevada em Reno produziram combustível diesel tendo por base restos de café.

A técnica não é complicada, reportaram os pesquisadores em artigo publicado pelo Journal of Agricultural and Food Chemistry, e a disponibilidade de café é tão grande que diversas centenas de milhões de litros de biodiesel à base de café poderiam ser produzidos a cada ano.

Mano Misra, professor de engenharia que conduziu a pesquisa com Narasimharao Kondamudi e Susanta Mohapatra, afirmou que descobriu por acidente que os grãos de café continham volume significativo de óleo.

"Certa noite, fiz um café mas me esqueci de bebê-lo", ele contou. "Na manhã seguinte, percebi que havia uma camada oleosa flutuando na superfície da bebida". Ele e sua equipe acreditavam que pudesse existir volume aproveitável de petróleo em grãos de café usado, e por isso visitaram diversas unidades da rede de cafés Starbucks em Reno e recolheram mais de 200 quilos de grãos de café usados.

Uma análise demonstrou que até mesmo os restos de café pós-moagem e fervura contêm entre 10% e 15% de seu peso total em óleo. Os pesquisadores utilizaram técnicas comuns na química para extrair o óleo desses grãos e transformá-lo em diesel. Os processos envolvidos não requerem uso especialmente intenso de energia, segundo Misra, e os pesquisadores estimaram que o biodiesel poderia ser produzido a um custo de cerca de 26 centavos de dólar por litro.

Um obstáculo, disse Misra, seria encontrar uma forma eficiente de recolher os restos de café. Não existem muitas fontes centralizadas de coleta de grãos usados de café. Mas os pesquisadores planejam montar uma pequena operação-piloto no ano que vem que usaria os restos fornecidos por uma empresa de moagem de café.

Mesmo que todos os restos de café do mundo fossem utilizados na produção de combustível, o total produzido equivaleria a menos de 1% do óleo diesel consumido ao ano nos Estados Unidos. "O método de maneira alguma resolveria os problemas mundiais de energia", disse Misra a respeito de seu trabalho. "Mas nosso objetivo é utilizar resíduos e transformá-los em combustível". E o biodiesel produzido à base de restos de café tem outra vantagem, ele disse: os gases de escapamento cheiram a café.

Tradução: Paulo Migliacci

The New York Times

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Cenário de incertezas para cotações do óleo de palma no exterior

11/12/08 - Pressionados pela desaceleração econômica mundial derivada da crise financeira irradiada a partir dos EUA, os preços internacionais do óleo de palma despencaram nos últimos meses e têm poucas perspectivas de recuperação no curto prazo.

Ontem, na bolsa da Malásia, os contratos com vencimento em fevereiro, atualmente os mais negociados, até que subiram, US$ 11, e fecharam a US$ 441,22 por tonelada. Mas as perdas em relação ao pico histórico de US$ 1.353,70 alcançado pelos futuros de terceira posição de entrega em março passado preocupam produtores e exportadores.

Ainda que tenha pouca relevância no Brasil, responsável por pouco mais de 100 mil toneladas de uma produção total anual da ordem de 37 milhões de toneladas, o óleo de palma é o óleo vegetal mais consumido do mundo. A oferta é encabeçada por Malásia e Indonésia, e a rainha do consumo, é claro, é a China.

E são os chineses o principal foco de preocupação do segmento no momento. Marcello Brito, diretor comercial da Agropalma, maior empresa do ramo no Brasil, afirma que os importadores do gigante asiático estão "fora do mercado", comprando apenas pequenos volumes, desde as Olimpíadas, em meados do ano. Com isso, afirma, os estoques dos exportadores crescem a olhos vistos.

Se os estoques da China são um mistério mesmo para os mais bem informados, tanto os de Malásia quanto os de Indonésia já superaram 2 milhões de toneladas, conforme Brito. A Malásia ainda conseguiu um bom aumento de embarques nos primeiros dez dias de dezembro (por isso os preços subiram ontem), mas em parte graças à Índia. Em tempos de recessão, diz o executivo, isso significa que, como em outros setores da economia, a tendência de consolidação parece inevitável.

Se no óleo de soja entre 70% e 80% da produção mundial é dominada por cinco ou seis grandes grupos, no óleo de palma a mesma fatia é dividida por entre 30 e 35 empresas. Empresas como as americanas ADM, Bunge e Cargill atuam nos dois mercados, e na palma disputam espaço com grandes companhias asiáticas.

Nesse contexto, medidas adotadas pelo governo brasileiro para facilitar as importações recebem duras críticas da Agropalma. Brito lembra que há dois anos o país eliminou a tarifa de importação de 10% que onerava o óleo da Colômbia, 5º maior produtor mundial. Em 2008, a tarifa do óleo de palmiste, que era de 10%, caiu para 2%. Extraído da polpa da palmeira, o óleo de palma, com distintos níveis de refino, é muito utilizado na alimentação - o azeite de dendê baiano é um exemplo. Já o óleo de palmiste, extraído da semente, serve às indústrias oleoquímica e de cosméticos, entre outras.



Fonte: Valor Econômico

Biodiesel feito de algas

11/12/08 - Embora, entre as matrizes vegetais, a soja seja a principal base do biodiesel do Brasil, sua escala de produtividade é baixa – de 400 a 600 quilos de óleo por hectare – e tem apenas um ciclo anual. O girassol pode produzir um pouco mais, de 630 a 900 quilos. No entanto, pesquisa realizada no Instituto de Biologia da Universidade Federal Fluminense (UFF) indica que microalgas encontradas no litoral brasileiro têm potencial energético para produzir 90 mil quilos de óleo por hectare.

E, segundo o estudo, elas têm diversas outras vantagens. Do ponto de vista ambiental, o biodiesel de microalgas libera menos gás carbônico na atmosfera do que os combustíveis fósseis, além de combater o efeito estufa e o superaquecimento.

A alternativa também não entra em conflito com a agricultura, pode ser cultivada no solo pobre e com a água salobra do semi-árido brasileiro – para onde a água do mar também pode ser canalizada – e abre possibilidades para que países tropicais (como a Polinésia e nações africanas) possam começar a produzir matriz energética. Além disso, as algas crescem mais rápido do que qualquer outra planta.

“O biodiesel de microalgas ainda não é viável, mas em cinco anos haverá empresas produzindo em larga escala”, estima o biólogo Sergio Lourenço, do Departamento de Biologia Marinha da UFF, responsável pelo estudo.

Lourenço identificou dezenas de espécies com potencial para produzir o biodiesel em larga escala. O problema é que a porcentagem de lipídios de cada alga não é alta – poucas espécies chegam a 20% de concentração. Mas a soja (18%) e o dendê (22%) também concentram baixas quantidades de lipídios. O amendoim concentra 40%.

“Se a matriz tem baixa concentração de lipídios, temos que acumular muito mais massa”, explica o biólogo. Por isso, ele e sua equipe trabalham em métodos para estimular a concentração de lipídios. “Por meio de técnicas de manipulação das condições de cultivo, conseguimos alterar a composição química nos meios de cultura, aumentando assim a concentração de lipídios. Em dez dias a biomassa está apta a ser colhida.”

Há pouco mais de um ano, o projeto vem sendo articulado com o Ministério da Ciência e Tecnologia, o Ministério da Agricultura, a Secretaria Especial de Água e Pesca e a Casa Civil, que conduz o Programa Nacional de Biodiesel.

Conversas têm sido feitas com a Petrobras para apoiar o projeto. O financiamento permitiria o cultivo em grande densidade, em tanques de 20 mil litros, primeiramente em uma unidade da UFF, antes de ser levada ao semi-árido. Há também, segundo Lourenço, outra vantagem ecológica nesse cultivo: para fazê-las crescer, é necessário tirar carbono da atmosfera.

As microalgas são usadas há décadas na produção de encapsulantes e na aquacultura, para alimentar peixes e outros animais. Segundo o pesquisador, desde a década de 1970, depois da primeira grande crise do petróleo de 1973, já se pensava na aplicação desses organismos marinhos para a produção de energia a partir da biomassa.

“Perdemos terreno por nunca ter investido o suficiente nessa frente. Hoje, o barril do petróleo custa US$ 70 e já chegou a custar US$ 143 este ano, batendo um recorde histórico. O Brasil tem tudo para se tornar a potência energética mundial. Nos encontramos na vanguarda dos biocombustíveis: além de termos alcançado a auto-suficiência na produção de petróleo, temos o maior programa de álcool do mundo”, destacou.

De acordo com Lourenço, outra vantagem é que, assim como a cana-de-açúcar, matéria-prima do etanol, as microalgas demandam uma área pequena para seu cultivo e podem produzir uma quantidade de biocombustível bem maior.

“A cana-de-açúcar ocupa 2% da área agrícola do Brasil, aproximadamente 45 milhões de hectares. A Embrapa indica que o país tem ainda 100 milhões de hectares que pode ocupar. O programa energético prevê mais 2 milhões de hectares, ainda assim uma fração da área total disponível. Com o cultivo das microalgas ocupando apenas 1% da área que a soja utiliza hoje, pode-se produzir a mesma quantidade de biodiesel que ela produz ao ano”, afirmou.

Algas para aviação

Presidente da Associação Brasileira de Biologia Marinha e autor do livro Cultivo de Microalgas Marinhas: princípio e aplicações (2006), Sergio Lourenço explica que não são todas as espécies de microalgas com potencial para biocombustível, mas conta que aquelas que identificou também poderiam ser aplicadas para a produção do bioquerosene, maior interesse do setor da aviação na atualidade.

Em fevereiro de 2008, um Boeing da companhia aérea Virgin Atlantic fez um vôo entre Londres e Amsterdã movido a bioquerosene à base de óleo vegetal – uma mistura de babaçu e coco. As empresas aéreas gastam 85 bilhões de galões de querosene tradicional por ano e são responsáveis por 3,5% das emissões de dióxido de carbono no mundo.

“O setor tem que diminuir as emissões e pretende trabalhar com uma mistura de 20% de bioquerosene, hoje feita à base de óleos vegetais, com o querosene tradicional, que custa o equivalente a 40% do preço de uma passagem aérea”, disse Lourenço.

Segundo ele, o processo de produção do bioquerosene é semelhante ao do biodiesel – ambas as moléculas estão presentes nas microalgas, com a diferença de que as do biodiesel são maiores.

“Elas têm a mesma classe de moléculas, mas com características químicas diferentes; uma alga descartada para aplicação de biodiesel pode ser usada para bioquerosene”, disse.

Em fevereiro de 2009, o setor aeronáutico estará reunido em Montreal, no Canadá, no Congresso da Associação Internacional de Aviação (Iata) para discutir, entre outros assuntos, o uso das microalgas na produção de bioquerosene. Esse foi também o destaque de um evento promovido pela Boeing em outubro passado.

O projeto da UFF será um dos destaques de um Congresso da Associação Brasileira de Biologia Marinha que será realizado em abril de 2009, na cidade de Búzios, no Rio de Janeiro.


Washington Castilhos
Fonte: Agência Fapesp