Um arbusto silvestre com grandes sementes oleosas pode ser a fonte ideal de biocombustível. Por centenas de anos, africanos de regiões da Tanzânia e do Mali vinham usando o Pinhão-Manso (Jatropha Curcas L.) como cerca viva. Agora, empresários da indústria de biodiesel de áreas tropicais na África e na Índia estão comprando terras e cultivando a planta para produzir combustível com as sementes, que, segundo eles, será melhor do que o biocombustível produzido em climas temperados.
Atualmente, o etanol do milho e da cana-de-açúcar, e o biodiesel da canola, da soja e da palmeira são os carros chefes da energia renovável. Os biocombustíveis não aumentam a quantidade de CO2 no ar porque, à medida que as plantas crescem, retêm o gás liberado em sua queima.
Ainda assim, os biocombustíveis enfrentam críticas. Vegetais como milho, canola e soja produzem óleo, mas são caros e requerem práticas agrícolas intensivas, além de ameaçar a produção de alimentos. A jatrofa não sofre essa oposição. Como cresce em climas secos e quentes, a planta não ameaça tomar o lugar de florestas. Com ela, não há necessidade de decidir entre combustível ou comida, já que seu óleo é venenoso. John Mathews, professor de gerenciamento estratégico na Macquarie University, na Austrália, aponta que muitos países em desenvolvimento de regiões tropicais possuem grandes áreas de terras semi-áridas que poderiam ser utilizadas para o plantio da jatrofa. O custo da mão-de-obra também é baixo nesses lugares. Biocombustíveis feitos de plantas como a jatrofa, segundo Mathews, “representam grande chance para industrializar os países pobres do sul”. Ele defende o plantio em larga escala para garantir a independência energética de países como China e Índia e promover exportações em regiões menos desenvolvidas da África.
A visão de Mathews pode estar se tornando realidade. A empresa de biodiesel Britânica D1 Oils plantou 150 mil hectares de jatrofa na Suazilândia, Zâmbia e África do Sul, assim como na Índia, onde tem parceiros. A empresa pretende dobrar a área plantada neste ano. A fabricante para equipamentos de biodiesel Bioking, da Holanda, vem desenvolvendo plantios no Senegal, e o governo da China tem um grande projeto para a área. “A produção de óleo de jatrofa ainda é pequena porque todo mundo quer suas sementes para o plantio”, disse Reinhard Henning, consultor de transferência de tecnologia e especialista em jatrofa.
Além de plantar, estudiosos de jatrofa já começaram a identificar, selecionar e difundir as melhores variedades para o biodiesel. Henning encontrou sementes de jatrofa brasileiro que contêm 40% de óleo – praticamente o mesmo que a canola, e mais do que o dobro dos 18% contidos nas sementes de soja. A Indonésia tem uma variedade anã fácil de colher.
É crucial encontrar a variedade mais bem adaptada a condições específicas de crescimento, explica Henk Joos, diretor de agronomia da D1 Oils, já que ainda não existem informações científicas sólidas sobre a jatrofa. “Sabemos que essa planta é ambientalmente flexível e resistente à aridez”, disse. “Mas a aura de que a jatrofa é uma planta maravilhosa, que você planta no deserto e colhe ouro”, é uma idéia perigosa que pode ameçar a sustentabilidade social e econômica. A jatrofa precisa ser manejada como qualquer outra planta. As plantações de D1 Oils usam as melhores terras, sem substituir o plantio de alimentos, e adotam as práticas convencionais: poda, aplicação de esterco e irrigação.
Operações em larga escala precisam ter um funcionamento similar ao das fazendas de alto rendimento, o que levanta questões sobre a competição com plantações de alimentos por água e terra, diz o agrônomo Raymond Jongschaap, da Universidade de Wageningen, na Holanda. Ele lidera um dos projetos de pesquisa que buscam novos tipos de jatrofa. O objetivo é promover o cruzamento entre plantas para melhorar as condições de cultivo e maximizar a extração de óleo. Ele aposta no cruzamento da jatrofa com outras plantas – como no Quênia e em Madagascar, onde a planta é cultivada ao lado da baunilha.
Para Henning, o melhor é começar aos poucos. O biodiesel não pode competir com os preços atuais do petróleo. A jatrofa estaria mais bem adaptada aos projetos locais voltados para a melhoria das condições de vida no campo e serviços básicos de energia. Esses pequenos projetos já induziram uma familiarização com a planta e mais conhecimento – na Tanzânia, as crianças aprendem sobre a jatrofa na escola. O cultivo deve ganhar escala quando o preço dos combustíveis fósseis subir.
Scientific American, ano 6, nº62, julho de 2007 (em inglês)
Rebecca Renner is an environmental writer based in Williamsport, Pa.
quinta-feira, 3 de julho de 2008
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