terça-feira, 16 de março de 2010

Pinhão-masnso para recuperação de áreas degradadas no Piauí

A região de Gilbués, localizada no Alto Parnaíba, a cerca de 830 km de distância de Teresina, é considerada como a principal região com concentração de áreas degradadas, já com processo, em estagio avançado, de desertificação em algumas áreas do municipio, do estado do Piauí. Este processo iniciou-se com a exploração desordenada do garimpo (diamante). Nessa época, o crescimento desordenado da população contribuiu para o surgimento de muitos problemas socioeconômicos e principalmente ambientais. Atualmente, este problema do garimpo encontra-se praticamente sob controle com poucos garimpos e uma empresa israelense explorando o diamante, utilizando técnicas avançadas para essa exploração.

Outros fatores que contribuíram também para o agravamento da degradação ambiental foram: o desmatamento sem critérios técnicos, o uso do fogo e a criação extensiva de gado, com um manejo inadequado dos bovinos, que perdura até os dias de hoje. Na época da seca, os animais são levados para as áreas úmidas (regiões dos gerais) e, na época das chuvas, são trazidos para as áreas altas, onde predomina as "malhadas". Essas áreas, no passado, possuíam uma pastagem natural rica, que cobria os animais, segundo depoimento da população. Atualmente, estes animais ficam pastando nessas áreas pobres em pastos nativos, com gramíneas que não chegam a passar dos 10 cm de altura.

A exploração da agricultura de forma inadequada, sem a observância dos princípios da conservação de solo e sua fragilidade, pela própria origem, também contribuiu para o surgimento dessas áreas degradadas em larga escala. Um fator que tem que ser observado é a própria gênese do solo, típico do material rochoso e da sua formação básica que possui média fertilidade e, geralmente, media a baixa infiltração de água no solo. Entretanto, há problemas de estabilidade de agregados das partículas do solo que são susceptíveis às chuvas, contribuindo para o carregamento dessas partículas do solo, no período chuvoso, para os riachos, lagos, lagoas, contribuindo para o assoreamento, desses corpos de água, principalmente para a Barragem de Boa Esperança, localizada a jusante da região de Gilbués, PI.

Nesta região, são poucas as informações técnicas e/ou científicas e ações agronômicas com a finalidade de buscar alternativas de controle do processo de degradação, tampouco, de recuperação das áreas já degradadas e/ou para estacionar a expansão do processo de degradação.

O pinhão-manso (Jatropha curcas L.) é uma planta perene e que vive mais de 50 anos. No Brasil, esta oleaginosa é encontrada praticamente em todas as regiões, adaptando-se as mais diferentes condições edafoclimáticas. Essa oleaginosa tem sendo estudada como alternativa para cultivo em áreas degradadas em muitos locais do mundo. Com a necessidade de se buscar novas alternativas de se produzir energia limpa, com a fixação de carbono e a geração de emprego e renda, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida dos produtores e considerando o seu teor de óleo encontrado nas sementes, entre 30 e 40% de e possui boa qualidade para a fabricação de biodiesel, escolheu-se essa planta, como a principal, para ser avaliada no município de Gilbués, PI.

Neste contexto, uma equipe multidisciplinar, envolvendo um total de oito pesquisadores da Embrapa Meio-Norte e dois professores da Universidade Federal do Piauí (UFPI), elaboraram um projeto de pesquisa com o objetivo gerar conhecimentos e tecnologias que possam contribuir para a paralisação do processo de degradação ambiental em áreas em desertificação, utilizando pinhão-manso, estilosante e gramíneas, na região de Gilbués, Piauí. Este trabalho está sendo financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), sob a coordenação da Embrapa Meio-Norte e seus parceiros - Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Estado do Piauí (Semar), UFPI e Prefeitura Municipal de Gilbués, e terá um período de duração de três anos, tendo sido iniciado em novembro do ano 2008.

O experimento está sendo conduzido em uma área de "malhada", degradada, representativa da região, em solo Neossolo Litólico, com assoreamento de rochas, localizada na cidade de Gilbués, PI. O plantio do pinhão-manso foi realizado em novembro de 2008, utilizando um espaçamento de 4,0m x 3,0m, com uma população de plantas de 833 plantas por hectare. A área foi dividida em quatro talhões cultivados da seguinte forma: Talhão 1: um hectare plantado com pinhão-manso e estilosante Campo Grande; Talhão 2: um hectare plantado com pinhão-manso, estilosante Campo Grande e capim Andropogon gayanos; Talhão 3: um hectare com pinhão-manso, estilosante Campo Grande e capim Brachiaria decumbens e Talhão 4: um hectare com pinhão-manso, estilosante Campo Grande e capim Brachiaria brisantha, cultivar Piatã.

Estão sendo avaliadas as seguintes características do solo: agregação e estabilidade de agregados; densidade do solo e de partículas; microporosidade, macroporosidade e porosidade total; condutividade hidráulica em meio saturado; capacidade de campo; ponto de murcha e resistência à penetração; mensuração da fauna edáfica quanto ao número de indivíduos e espécies e aumento da matéria orgânica no solo. Nas plantas de pinhão-manso, estão sendo avaliadas as seguintes características: altura de planta, diâmetro do caule e número de ramos primários, número de dias da emissão da inflorescência à colheita, produção total de sementes; massa de 100 sementes secas, produtividade de grãos e produtividade de óleo. Serão avaliadas, na estilosante e nas gramíneas, as seguintes variáveis: matéria seca das plantas, cobertura do solo e altura de plantas.

Ao longo dos três anos de execução serão realizados dia de campo, visitas técnicas de empresários, estudantes e também servirá de apoio para aulas práticas dos estudantes e profissionais da agropecuária. Este trabalho servirá também para produção de sementes para pesquisas e implantação de projetos relativos a agricultura familiar na região de Gilbués.

AUTORIA

Marcos Emanuel da Costa Veloso
Eugênio Celso Emérito Araújo
Pesquisadores da Embrapa Meio-Norte
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Links referenciados

Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Estado do Piauí (Semar)

Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

Universidade Federal do Piauí (UFPI) -

Embrapa Meio-Norte

Eugênio Celso Emérito Araújo - eemerito@cpamn.embrapa.br

Marcos Emanuel da Costa Veloso - marcos@cpamn.embrapa.br

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