terça-feira, 31 de março de 2009

No Brasil, a Mamona atrai produtor, mas não vira biodiesel

Produtores de regiões áridas do país investem na resistente oleaginosa e a vendem para a indústria ricinoquímica, que paga preços mais altos do que a indústria de biodiesel

Por Verena Glass

Semi-árido baiano - A Bahia é historicamente o maior Estado produtor de mamona do país. A cultura, que é uma tradicional alternativa para lugares de pouca chuva, chegou a ocupar 340 mil hectares do território baiano na safra 1984/85, época em que o Brasil ainda dominava o mercado internacional de óleo de rícino, principal destino do produto. Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que acompanha o plantio desde 1977.

Apesar de o país ter perdido a liderança do mercado de óleo para a Índia e a China na década de 1990, quando houve uma diminuição significativa da área plantada de mamona na Bahia, a oleaginosa passou a compor a cultura produtiva do sertanejo baiano assim como o milho e o feijão, formando a "tríade de sustentação" da agricultura familiar do semi-árido da Bahia.

Isto se deu, de forma geral, em função de alguns fatores: a relativa resistência à seca, o conhecimento empírico do cultivo, a produção das próprias sementes, a facilidade de armazenamento, a boa produtividade e um mercado sempre demandante. Tudo isso transformou a mamona, plantada em sistema de consórcio com as culturas alimentares, em uma espécie de fonte fixa de renda, disponível ao longo do ano e mesmo em períodos em que a estiagem maltratava as culturas alimentares.

Dados de acompanhamento de plantio divulgados em março deste ano pela Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA) sustentam essa boa fama da mamona. Tomando-se como base as safras de feijão, milho e mamona de 2007/08 na região de Irecê, maior produtora do Estado, por exemplo, foram perdidos, em função da seca neste período, 56,8 mil hectares de feijão e 69,8 mil de milho, contra perdas de apenas mil hectares de mamona.

Já a relação de preços das três culturas favoreceu, em termos de maior valor, o feijão, cuja saca de 60 kg foi vendida, em média, a R$ 150. A saca de milho atingiu um preço médio de R$ 25, e a de mamona, R$ 73. Se compararmos as 2.017 toneladas de feijão colhidas na região com as 55.770 toneladas de mamona, no entanto, houve um rendimento de R$ 5,04 milhões para a primeira cultura e de R$ 66,9 milhões, para a segunda - um diferencial significativo para o orçamento dos agricultores.

Na safra deste ano (2008/09), ainda mais castigada pela estiagem, dados da EBDA apontam que, dos 45,4 mil hectares de feijão plantados na região de Irecê, 23,8 tinham sido perdidos até meados de fevereiro. As perdas do milho no mesmo período atingiram 25,5 mil dos 154,9 mil hectares plantados, e apenas a mamona resistiu.

Entretanto, apesar do bom desempenho agrícola e econômico da mamona, os agrônomos da EBDA Valfredo Vilela e Ariosvaldo Morais avaliam que a oleaginosa não tem suplantado ou substituído as culturas alimentares em termos de área plantada. Hoje, como na década de 1970, o sertanejo vê a mamona como um complemento da economia familiar - baseada no milho e no feijão -, mesmo porque a alta do preço é um fenômeno mais recente, desencadeado pela entrada da indústria do biodiesel num mercado dominado pela ricinoquímica até 2005.

Opção do biodiesel não alterou rotina
A longa convivência do sertanejo baiano com a mamona criou uma cultura muito própria de comercialização, que pouco se preocupa com o destino final do produto. Quando há uma organização maior dos agricultores, algumas cooperativas negociam diretamente com a indústria, mas no geral o destino da produção que sai da propriedade são os galpões dos atravessadores.

Em pequenos municípios como Itaitê (localizado na macrorregião produtora de Itaberaba) ou Cafarnaum (região de Irecê), o atravessador é quase uma entidade bancária, que recebe qualquer quantia de mamona e paga na hora, ou até adiantado. Mamona pode virar moeda de troca - três quilos de mamona por um quilo de arroz -, o dinheirinho da feira, ou a primeira mesadinha das crianças, que juntam restos e vendem no comércio por dois reais, explica o agrônomo da EBDA Valfredo Vilela.

Na opinião de muitos pequenos produtores do semi-árido baiano, a entrada da Petrobras no mercado de mamona do Estado, após a inauguração de uma usina de biodiesel no município de Candeias em 2008, resultou, até agora, numa oscilação favorável de preços - a saca de 60 kg atingiu um pico de R$ 86,00 no ano passado. Mas não foi suficiente para alterar a cadeia produtiva da cultura em termos de área plantada ou mesmo quanto às formas de comercialização.

A entrada da Petrobras no mercado de biodiesel está em linha com o plano estratégico 2009/2013 da empresa, divulgado em janeiro deste ano. Dos US$ 174,4 bilhões de investimentos previstos para o período, US$ 2,8 bilhões serão aplicados em agrocombustíveis. Uma das metas da empresa é atingir em 2013 a produção de 640 milhões de litros de biodiesel no país.

Apesar da atuação no mercado, a mamona não será transformada em biodiesel tão cedo. Com valor muito maior no mercado da indústria ricinoquímica, a parcela da oleaginosa adquirida pelas empresas de biodiesel também acaba destinada a ele, mesmo porque, no caso da Petrobras, as três usinas da empresa -Candeias, BA, Montes Claros, MG e Quixadá, CE - não tem equipamentos de esmagamento, operando apenas com óleo de soja comprado no mercado.

Apesar disso, a Petrobras planeja reforçar sua posição na Bahia. De acordo com o coordenador da Diretoria de Desenvolvimento Agrícola, Suprimento e Comercialização da Petrobras Biocombustível S/A, David Leal, a companhia tem a intenção de implantar um projeto amplo de parcerias com cooperativas, organizações sindicais e movimentos sociais para a promoção da mamona na agricultura familiar, tendo em vista principalmente o atendimento das exigências do Selo Combustível Social de aquisição de matéria-prima do setor para a usina de Candeias.

Segundo Leal, a empresa, que precisa comprovar a inclusão da agricultura familiar em até 30% do total de negócios da Petrobras para honrar as exigências do Selo, iniciou em 2007 um trabalho de divulgação de seu projeto de parceria que, a partir de 2009, inclui distribuição de sementes, assistência técnica, manejo de solo (principalmente descompactação das terras em áreas de menor produtividade) e contratos de compra e venda que garantem o preço de mercado ou um preço mínimo (calculado sobre a média dos preços dos últimos 36 meses) mais 10%, caso o mercado esteja pagando abaixo desse valor. Todos os contratos teriam vigência de cinco anos.

Movimentos sociais de olho na mamona
Com auxilio de entidades como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o Movimento de Luta pela Terra (MLT), a Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar (Fetraf), a Federação dos Trabalhadores na Agricultura da Bahia (FETAG) e de cooperativas independentes, a Petrobras cadastrou, até final de fevereiro, 31,2 mil agricultores, afirmou Leal. Mas nem todos fecharam contrato com a empresa.

Na região de Itaitê, onde há nove assentamentos e um acampamento, o MST pretende estreitar as relações com a Petrobras através da Cooperativa Regional de Reforma Agrária da Chapada Diamantina (Coopracd, que tem um projeto de cultivo de mamona com a empresa através do programa Petrobras Fome Zero desde 2003). Mas, até o momento, os novos contratos ainda não foram formalizados em função da necessidade de ajustes, como os valores disponibilizados à assistência técnica e as formas de pagamento.

No assentamento do Baixão, um dos mais organizados da região e que comporta hoje 140 famílias, a mamona sempre foi um cultivo importante, apesar de complementar às culturas alimentares. Segundo o presidente da Coopracd, Edivando dos Santos, que também preside a Associação dos Assentados do Baixão e coordena o setor de produção do MST na região, apesar do projeto da Petrobras Fome Zero (que incluiu a construção de três galpões, a aquisição de vários veículos, um escritório em Itaitê e assistência técnica), a cooperativa acabou vendendo em 2008 a maior parte de sua produção para a indústria de óleo de mamona Bom Brasil, sediada em Salvador. Essa companhia pagava preços mais altos (até R$ 80 a saca de 60 kg) do que os oferecidos pela Petrobras (R$ 55, em média).

"A Bom Brasil também pagava na hora, enquanto a Petrobrás demorava até 30 dias para efetuar os pagamentos. Como é a cooperativa que compra a mamona dos produtores e repassa à indústria, se não tivermos dinheiro em caixa para remunerar os agricultores, a coisa fica muito complicada", explicou Edivando. Segundo ele, houve pequenas vendas para a Petrobras para garantir a diversificação do mercado, mas em 2009 a política de comercialização continuará baseada nas melhores condições de oferta.

Já em Cafarnaum, município que é um dos maiores produtores de mamona do país e com cerca de 17,5 mil habitantes, a maioria na zona rural, a Petrobras ou outras indústrias de biodiesel, como a Brasil Ecodiesel, ainda não entraram no mercado, afirma o agricultor Iranildo Alves dos Santos.

Considerado um "grande" produtor - em seus 380 hectares, 70% da produção agrícola são de mamona não consorciada com milho e feijão, culturas que ocupam o restante da área -, Santos tem investido em melhoramentos de sementes e manejo, e comemora a alta dos preços impulsionados pelo biodiesel, mas de resto não vê diferença no mercado com a chegada das indústrias de agroenergia na Bahia.

"A Petrobras esteve aqui no ano passado, mas fez apenas uma explanação do projeto do biodiesel. Até o momento não me interessei, porque aqui temos grande desconfiança depois dos fracassos dos contratos com a Brasil Ecodiesel no passado, que não renderam nada a quem fez", explicou Santos.

Já o agricultor Firmino Rosa de Souza, que tem 43 hectares divididos com seu filho Joselito, não sabe o que é biodiesel nem quem são os compradores finais de uma pequena produção que é vendida aos atravessadores. Com a estiagem deste ano, a família de Joselito perdeu praticamente toda a produção de milho e feijão, e a mamona passou a ser um tipo de "seguro de vida", explica o agricultor. "Aqui, quando tudo acaba, a nossa sobrevivência depende da mamona, que ainda se segura. Sobre o biodiesel, fico só parado escutando. Não me preocupo para onde vai a minha mamona, na roça eu só penso mesmo em trabalhar".

Clique aqui e leia o último relatório sobre mamona produzido pelo Centro de Monitoramento de Agrocombustíveis da Repórter Brasil.

Fonte:

sexta-feira, 27 de março de 2009

Pesquisa mostra que palmeira inajá serve para biocombustível

A palmeira Inajá (Maximiliana maripa) pode ser uma das opções de oleaginosas para a produção de biodiesel no estado de Roraima, onde a planta se desenvolve em grandes áreas.

A constatação faz parte da tese de doutorado do pesquisador Otoniel Ribeiro Duarte, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa-Roraima), dentro do Programa de Biocombustíveis com a orientação da pesquisadora Ires Paula de Andrade Miranda do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCT)

Os resultados mostraram que a palmeira passa a ocupar posição privilegiada na lista das oleaginosas promissoras, tornando-se estratégica dentro do Programa Nacional de Produção e usos de Biocombustíveis. Além disso, preenche quesitos relativos ao desenvolvimento regional, inclusão social e preservação ambiental.

O estudo mostrou ainda que o inajá, por meio de seus resíduos das sementes e frutos, também aponta grandes possibilidades de inserção na dieta de aves e suínos em mistura nas rações tradicionais desses animais.

Duarte enfatiza que o manejo desta palmeira em pastagens e roçados se torna uma alternativa interessante, pois devido a alta regeneração que ocorre nestes ambientes abertos, adaptação em solos pobres quimicamente, ausência de espinhos e a alta produtividade em óleos permite um manejo barato e fácil, gerando renda aos pequenos produtores rurais.

Segundo o pesquisador o inajá tem potencial para produzir mais de 3500 litros de óleo por hectare, baseado apenas na seleção de plantas promissoras existentes na região.

De acordo com Ires Miranda, responsável pelo Laboratório de Estudos em Palmeiras da Amazônia (LabPalm) do Inpa, o grupo desenvolve pesquisas de identificação, mapeamento com coordenadas geográficas e estudos ecológicos de palmeiras, considerando Roraima possuidor de grande incidência de inajá a qual tornou-se, segundo o grupo, a palmeira indicada para o aproveitamento racional, oferecendo possibilidades para a fixação do homem no campo e com isso evitando o êxodo e o aumento do desmatamento na Amazônia.

Fonte: Ministério da Ciência e Tecnologia

quinta-feira, 26 de março de 2009

Óleo de dendê do Pará vira biodiesel na Europa

BELÉM - Representantes do governo do Estado reuniram sexta-feira com a empresa europeia ACM Bio-Tech, com o objetivo de protocolar intenções para construção de usinas de beneficiamento de dendê no Pará, nos municípios de Moju, Igarapé-Mirim e Mocajuba.

A produção e o beneficiamento de dendê serão realizados por meio de um acordo entre a companhia europeia e pequenos produtores paraenses, intermediado pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), por meio do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), e com o apoio estruturante do governo do Estado.

Os pequenos produtores cultivam em suas terras mudas de árvores compradas pela companhia europeia, que também cederá máquinas e equipamentos de cultivo. Em contrapartida, a produção dos agricultores deve estar comprometida com a ACM Bio-Tech.

A preços anteriormente concordados com as cooperativas dos pequenos agricultores, o pagamento será efetuado pelo Pronaf de forma adiantada, por meio de acordo feito entra a ACM e o MDA.

Em fase de instalação em Belém, a ACM já acordou com 450 famílias dos municípios de Moju, Igarapé-Miri e Mocajuba para a plantação de 3 milhões de mudas em uma área de 15 mil hectares. Em dois anos, na mesma área, devem ser plantados mais 6 milhões de mudas de dendê, algumas importadas do Equador.

Até o fim do ano, a empresa espera ter uma usina de beneficiamento capaz de produzir 500 toneladas de óleo por dia em cada município.

"O objetivo é exportar 20 mil toneladas de óleo bruto por mês, em um espaço de tempo de pelo menos 18 anos", explica Carmelo Màngiola, representante da ACM Bio-Tech no Pará.

O valor total do investimento, do qual participam bancos suíços e italianos, é avaliado em cerca de 45 milhões de dólares.

Os pequenos agricultores interessados em participar do projeto podem entrar em contato por meio do e-mail acmbiotech@gmail.com.

Ver ainda: ENTREVISTA-Brasil deve ver expansão de óleo de palma em breve

Fonte:

Sabesp anuncia início de coleta de óleo de fritura em Registro

Segundo superintendente Irineu Yamashiro, um litro de óleo é suficiente para poluir 25 mil de litros de água

O Programa de Reciclagem de Óleo de Fritura (Prol) já é realidade em Registro. Seu lançamento foi anunciado última sexta-feira, 20 de março, durante a abertura da 6ª Semana da Água do Vale do Ribeira, pelo superintendente regional da Sabesp, Irineu Yamashiro.

“Trata-se de um programa relativamente simples, mas de expressivo impacto positivo, pois com ele conseguiremos evitar que muitos litros do óleo usado em cozinha contaminem rios, mar, solo e lençol freático”, explicou Yamashiro. Segundo ele, um único litro de óleo é suficiente para poluir 25 mil de litros de água.

A implantação do Prol em Registro é uma iniciativa da Sabesp, em parceria com a Prefeitura, a Associação Comercial (Aciar) e o Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Cidadania do Vale do Ribeira (Idesc).

De acordo com a Assessoria de Meio Ambiente da Sabesp, o óleo de fritura polui os rios por conter carga orgânica elevada que, em sua digestão, requer oxigênio dissolvido, essencial à respiração dos peixes e outras formas de vida. O óleo também contribui para formar uma camada na superfície, que prejudica a oxigenação das águas.

Estima-se que 4 bilhões de litros de óleo de fritura sejam produzidos ao ano no Brasil, 2 bilhões dos quais são descartados após o uso. Do total descartado, estima-se que somente 5% sejam reciclados.

“Com o desafio de reduzir e até eliminar a poluição, o programa de reciclagem de óleo de fritura baseia-se em informação, conscientização e na implantação de um sistema de coleta do óleo usado”, explicou Irineu Yamashiro.

Segundo ele, 30 mil folhetos informativos impressos pela Sabesp estão sendo distribuídos de casa em casa, junto com a conta mensal de serviços de água e esgoto, e três pontos de coleta instalados em Registro estão aptos a receber o óleo usado. São eles: a sede do Cidadão Catador, na Rua Chile, nº 48, Vila Ribeirópolis (Pedreira); a agência de atendimento da Sabesp, à Avenida Prefeito Jonas Banks Leite, 400, centro; e o Departamento Municipal do Bem Estar Social, à Rua São Francisco Xavier, 165, centro.

Além disso, integrantes do projeto “Cidadão Catador”, que já recolhem papelão, alumínio e plástico na cidade, começaram a coletar também o óleo usado de cozinha.

De acordo com o superintendente da Sabesp, todo o óleo coletado no município será encaminhado para reaproveitamento na produção de biodiesel. “Além de reduzir a contaminação do ambiente, o programa ainda contribuirá para gerar renda aos catadores”, concluiu Irineu Yamashiro.

Fonte: Diário de Iguape

Pesquisas com pinhão manso avançam na Embrapa


A Embrapa, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, coordena atualmente um programa de pesquisa com ações em todas as áreas da cadeia produtiva, envolvendo melhoramento genético, biologia avançada, desenvolvimento de sistema de produção, colheita e pós-colheita que visa a qualidade do óleo, destoxificação da torta e estudos sócio-econômico-ambientais.

Participam do programa diversas unidades da Embrapa, presentes nas regiões Sul, Sudeste, Centro Oeste, Nordeste e Norte, e parceiros do setor público e privado que dão suporte ao desenvolvimento das ações locais de pesquisa.

De acordo com o pesquisador da Embrapa Agroenergia e coordenador do programa, Bruno Laviola, considerando que o pinhão manso é uma cultura perene, estima-se que serão necessários entre 2 a 5 anos para que se tenham as primeiras cultivares melhoradas e informações científicas embasadas sobre o sistema de produção nas diversas regiões do Brasil. A Embrapa Agroenergia, em parceria com a Embrapa Cerrados, está trabalhando na caracterização e enriquecimento de uma coleção pinhão manso, com acessos de origem de diversas regiões do Brasil e exterior. Também, desenvolve ações para dar suporte técnico-científico à caracterização botânica e molecular de espécies e cultivares, visando subsidiar o registro de cultivares e encurtar caminhos para a obtenção de uma genética melhorada. A coleção de germoplasma caracterizada servirá de base para implantação de um programa de melhoramento genético do pinhão-manso visando à obtenção de cultivares com maior produtividade e qualidade de óleo, tolerantes a estresses bióticos e abióticos e com outras características de interesse agronômico.

Para o pinhão manso se tornar viável com a produção de óleo combustível, alguns desafios já foram lançados. De acordo com Laviola, existem diversos aspectos que podem dificultar da cultura na cadeia produtiv. “Há grandes desafios. Não existe cultivares, sendo que a diversidade ainda desconhecida. Há carência de informação e domínio tecnológico desta cultura. A colheita ainda é desuniforme, o que onera o custo de produção”, ressalta o pesquisador. Além disso, o pinhão manso é susceptível a pragas e doenças e a torta obtida após extração do óleo é tóxica, o que impede a agregação a este co-produto pela sua utilização na ração animal.

No Brasil já existem alguns plantios distribuídos principalmente nas regiões Sudeste, Centro-oeste e Nordeste. Os plantios comerciais de pinhão manso ainda estão em fase inicial de implantação, com idade menor ou igual a três anos. Embora o pinhão manso esteja sendo amplamente adotado por produtores é importante ressaltar que a espécie ainda não possui domínio tecnológico que garanta rentabilidade no seu cultivo. Laviola destaca que o pinhão manso se tornou uma matéria prima atrativa para produção de biodiesel por apresentar um elevado potencial de rendimento de grãos e óleo: a produtividade do pinhão manso pode ser de três a quatro vezes superior a da soja, que está em torno de 500 litros/ha. Além disso, o pinhão manso é uma espécie não alimentar, ou seja, não concorre diretamente com a agricultura de alimentos. A espécie possui, também, características compatíveis com o perfil da agricultura familiar: é uma espécie perene, não necessita de renovação anual do cultivo, dependente de mão-de-obra e os espaçamentos adotados permitem, nos primeiros anos de cultivo, o consórcio com outras culturas, podendo se produzir em uma mesma área energia e alimento. Estas características somadas a outras fazem com que o pinhão manso se torne uma oleaginosa com potencial para atender ao Programa Nacional de Produção de Biodiesel. | www.cnpae.embrapa.br

Fonte:

O bagaço de cana como alternativa energética

25/03/09 - Tornou-se preocupação mundial a busca por fontes seguras, limpas e renováveis de energia elétrica, de forma a se reduzir efetivamente a emissão na atmosfera de gases que contribuem para o chamado efeito estufa. No Brasil, mesmo com o descompasso existente entre o crescimento econômico e o fornecimento de eletricidade necessário ao desenvolvimento, vivemos uma situação privilegiada para enfrentar este desafio.

Os projetos de geração de eletricidade a partir da queima do bagaço de cana-de-açúcar representam um diferencial para o desenvolvimento sustentável no País. Segundo avaliação do Instituto Brasil Acende, os canaviais brasileiros existentes poderiam gerar energia equivalente a cerca de 14.000 MW. É uma capacidade semelhante à da usina hidrelétrica de Itaipu à disposição dos agentes privados, esperando para ser desenvolvida.

Ainda tímida diante do potencial, a cogeração seguramente vai crescer exponencialmente e se consolidar como fonte importante de energia. Atualmente, a participação da bioeletricidade na matriz energética brasileira é de 3%, o que equivale a aproximadamente 1.400 MW médios. Em 2020, serão 14.400 MW. Segundo dados da Associação Paulista de Cogeração de Energia (Cogen-SP), o setor sucroalcooleiro deverá investir R$ 45 bilhões até 2015 em projetos de cogeração.

Quanto maior o incentivo à produção de etanol e açúcar, maior o potencial de energia elétrica gerada a partir da queima do bagaço. Somente entre 2005 e 2007, a energia elétrica gerada a partir da biomassa no Brasil cresceu aproximadamente 20%.

A safra de cana-de-açúcar passou de 318 milhões de toneladas para 514 milhões de toneladas, devendo chegar à impressionante marca de 730 milhões em 2010, segundo estimativas recentes. A cogeração pode ser um dos grandes pilares do setor elétrico brasileiro. Sendo assim, o desenvolvimento da cogeração no País terá o efeito benéfico de alavancar a indústria brasileira de equipamentos. As usinas de cogeração usam tecnologia 100% nacional. Desde as caldeiras, turbinas, o projeto de engenharia utilizado, o insumo (cana-de-açúcar), todos os componentes são brasileiros.

Condição que já transformou o Brasil no maior especialista de geração de energia elétrica por meio da biomassa. Equipar usinas de açúcar e álcool para gerar energia a partir da queima do bagaço de cana no futuro será um fator preponderante de geração de empregos e renda, aumentando a ocupação da capacidade industrial brasileira.

A cogeração também cria uma oportunidade para a venda de créditos de carbono. O conselho da Organização das Nações Unidas (ONU) que avaliza mecanismos de desenvolvimento limpo (MDL) aprovou mais de 140 projetos brasileiros de geração de energia, aproximadamente a metade deles de cogeração.

Além disso, há uma complementaridade única entre a energia elétrica gerada a partir de hidrelétricas e a partir do bagaço de cana. O regime de chuvas nas regiões Sul e Sudeste concentra a maior frequência de precipitações de novembro a abril. Nos demais meses, os reservatórios das hidrelétricas ficam reduzidos e diminuem a produção de eletricidade, algumas vezes a níveis preocupantes, obrigando o acionamento de usinas termelétricas movidas a gás natural.

Na cultura de cana-de-açúcar, por sua vez, a safra se desenvolve predominantemente entre abril e novembro, ou seja, teríamos uma carga adicional de energia gerada a partir do bagaço justamente quando o regime de chuvas nos principais centros consumidores é menor.

Gargalos existentes à geração de eletricidade aos poucos vão sendo solucionados. O custo de conexão das usinas de biomassa ao sistema elétrico nacional, alto para um único produtor, poderá ser compartilhado entre vários empreendedores, segundo regulamentação recente. A discussão agora avança para a precificação da bioeletricidade, que precisa ser competitiva.

A biomassa como fonte de energia renovável tem papel de extrema relevância no cenário brasileiro. Cabe aos principais agentes do País não perder essa excelente oportunidade.


Paulo Cezar Coelho Tavares - Vice-presidente de Gestão de Energia do Grupo CPFL Energia - 18/03
Fonte:

Pesquisadores da Embrapa discutem avanços da pesquisa em agroenergia

A equipe do projeto de pesquisa "Fontes alternativas potenciais de matérias-primas para produção de agroenergia", estudo conduzido por vinte e uma Unidades da Empresa Brasileira de Agropecuária - Embrapa e parceiros, está reunida nesta semana, na Embrapa Cerrados (Planaltina - DF), para avaliar as pesquisas conduzidas com pequi, macaúba, tucumã, entre outras espécies, e definir ações a serem executadas ao longo do ano.

A pesquisa está avaliando, entre outros aspectos, o teor e qualidade do óleo, viabilidade para produção de biodiesel e resistência a pragas e doenças das espécies. "A pesquisa começou como uma corrida. Largaram várias plantas, hoje algumas lideram", diz o pesquisador Nilton Vilela Junqueira, da Embrapa Cerrados, líder do projeto.

Junqueira comenta que as pesquisas visam domesticar espécies silvestres de plantas nativas do Brasil para produção de óleo. Para o pesquisador, o estudo, que prossegue até 2011, já evolui e a equipe irá selecionar duas ou três espécies para aprimorar as pesquisas. Ao longo da semana, os pesquisadores farão o relato das atividades desenvolvidas nos planos de ação de pesquisa em pequi, macaúba, tucumã e pinhão-manso.

Outros assuntos abordados no primeiro dia do encontro foram proteção intelectual e registro comercial de cultivares. José Robson Sereno, chefe geral da Embrapa Cerrados, e Frederico Ozanam Durães, chefe geral da Embrapa Agroenergia, destacaram na abertura do evento a importância do trabalho em parceria em torno de um tema capaz de contribuir para a diversificação da matriz energética brasileira.”O Brasil tem uma agenda pública para o negócio de agroenergia”, afirma Frederico Durães. Ele salienta que agroenergia é um negócio de alta competitividade e cooperação, com o incremento do fator inovação para fazer diferença no mercado.

Para Durães, a substituição da matriz fóssil por combustíveis renováveis é possível com competitividade, inovação e cooperação. O pesquisador defende os arranjos produtivos locais e regionais de biocombustíveis para produção e consumo no mesmo local. "É um princípio básico da energia renovável", diz.

Alexandre Strapasson, diretor do departamento de cana-de-açúcar e agroenergia do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), destaca que "há grande expectativa em torno das pesquisas da Embrapa", tanto no âmbito nacional como também em outros países. “A Embrapa tem condições de atender a toda essa expectativa de desenvolvimento de tecnologia para a agroenergia, trabalhando em conjunto com o Ministério”, diz o diretor. Strapasson salienta ainda que as novas espécies para produção de biocombustível podem ser uma alternativa de renda para os produtores. "Para não derrubar floresta, é preciso convencer o produtor sobre a viabilidade econômica".

O diretor do MAPA lembra que o "cenário de muita demanda para a pesquisa e a crise mundial" é um momento propício para reflexões conjuntas sobre políticas públicas para a agroenergia. Em 2008, segundo dados do Ministério das Minas e Energia, o uso do biocombustível evitou a importação de 1,1 bilhão de litros de diesel de petróleo, o que rendeu aproximadamente US$ 976 milhões para o Brasil. O país bateu recorde na exportação de etanol com um total de 5,16 bilhões de litros vendidos no ano passado. Por: Gustavo Porpino e Daniela Garcia Collares .

. [ Chefe da Embrapa Agroenergia fala da importância da cooperação e da competitividade no negócio agroenergético].

Fonte:

segunda-feira, 23 de março de 2009

Projeto experimenta cultivo de pinhão manso associado a pastagem

A Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-MG) participa de um projeto para o cultivo de pinhão manso consorciado a braquiária, que está sendo desenvolvido pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a Refinaria Nacional de Petróleo Vegetal - Fusermann Biodiesel, e a Universidade Federal de Viçosa (UFV). O objetivo é associar o cultivo da planta, de cujo fruto se extrai o óleo para fabricação de biocombustível, à pecuária leiteira.

O sistema traz vantagens adicionais para o produtor familiar, ao proporcionar diversificação de renda, segundo técnicos especialistas. O programa é financiado com recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), que investiu R$ 45 mil no projeto.

Segundo o coordenador técnico regional da Emater-MG de Juiz de Fora, Antônio Domingues de Souza, tudo começou a partir de uma parceria entre a Embrapa Gado de Leite e a Fusermann Biodiesel, empresa sediada no município de Barbacena. Há 15 anos, a refinaria procurou a Embrapa, que trabalha com sistemas silvipastoris (pastagens consorciadas com espécies arbóreas/arbustivas), para propor um convênio de cooperação técnico-científica, com vistas a aprofundar conhecimentos referentes à viabilidade da associação do pinhão manso com a produção de forragem.

De acordo com o pesquisador da Embrapa Gado de Leite, Carlos Renato Tavares de Castro, membro da equipe responsável pelo projeto, a intenção "é gerar informações que possam esclarecer sobre a polêmica de que áreas destinadas à cultura de matéria-prima para biocombustíveis competem, ou não, pelo espaço destinado à produção de alimentos para a sociedade".

As atividades do projeto começaram no mês de janeiro deste ano, com o plantio consorciado de pinhão manso e braquiária, numa área de dois hectares e meio, em um campo experimental da Embrapa, no município de Coronel Pacheco, Zona da Mata mineira. No local, estão sendo testados diversos espaçamento do consorcio. Tanto pelo método tradicional (semeadura a lanço) ou conforme os preceitos da Integração Lavoura-Pecuária-Floresta, conhecida nos meios técnicos como ILPF, em que se aplicam sub-doses de herbicida na pastagem já existente e faz-se o plantio direto na palha (no caso, a semeadura do milho), sem arar e nem gradear o solo.

A proposta é que a área destinada à pesquisa seja utilizada como unidade demonstrativa para treinamento dos extensionistas da Emater-MG e em futuras visitas técnicas de produtores rurais. As atividades estão sendo negociadas entre os parceiros envolvidos no projeto, segundo informações da Embrapa. A empresa considera que o pinhão manso é uma das mais promissoras espécies oleaginosas passíveis de utilização como matéria-prima para fabricação de biodiesel.

Para o coordenador técnico regional de Meio Ambiente da Emater-MG, o engenheiro florestal Gilberto Malafaia, além dos aspectos econômicos e estratégicos envolvidos, o uso de combustíveis de origem não fóssil é uma das formas de preservação ambiental. "A liderança brasileira na produção e o uso de biocombustíveis já é reconhecida internacionalmente", argumenta. "Ademais, o sistema de consorciação proposto é de adoção viável para a agricultura familiar, possibilitando a diversificação de renda, por meio da obtenção de dois produtos: animal e florestal", reforça o pesquisador a Embrapa, Carlos Renato Tavares de Castro.

Segundo o coordenador da Emater-MG, Souza, apesar de o sub-produto da extração do óleo de pinhão para fabricação de cosméticos (torta), ser tóxico para os animais, é rico em proteína e já existem estudos para torná-lo viável ao consumo animal. "Existem resultados parciais promissores quanto ao desenvolvimento de técnicas de destoxificação desse material para viabilizar o seu uso na alimentação animal", informa.

De acordo com os técnicos envolvidos no projeto, o os resultados do projeto deverão ser conhecidos num prazo de até três anos e caberá à Emater-MG divulgar o sistema silvipastoril entre os produtores rurais. "Vamos avaliar se a alternativa é realmente interessante para o pecuarista e, se for, vamos divulgar", informa o coordenador da Emater-MG, Antônio Domingues. Segundo ele, os extensionistas irão receber treinamento específico sobre a nova cultura e orientação sobre o manejo do sistema proposto, para posterior divulgação da tecnologia e assistência técnica aos produtores interessados em adotá-la.

PINHÃO MANSO

De acordo com a publicação Cultivo de Pinhão Manso Para Produção de Óleo Combustível, de Luiz Antônio dos Santos Dias e colaboradores, a planta pertence à família Euphorbiaceae, a mesma da mandioca, mamona e seringueira, sendo um arbusto de crescimento rápido, que pode atingir de três a cinco metros de altura. Ao ser consorciado com pastagens, o gado pode ser inserido no sistema tão logo as plantas atinjam altura de 50 cm.

Essa espécie arbustiva libera látex, um líquido leitoso que é tóxico e pode queimar a pele. Mas segundo o pesquisador da Embrapa, Carlos Renato Tavares de Castro, a presença do látex pode estar relacionada ao fato de os animais não consumirem as folhas quando ainda verdes e presas à planta mãe, vantagem adicional ao sistema por possibilitar a introdução precoce dos animais nas áreas consorciadas, sem necessidade de proteção das mudas contra pastejo ou danos físicos causados pelos animais. Ainda, relatos de pecuaristas que já possuem o Pinhão Manso em suas pastagens atestam que as folhas secas, caídas ao chão, são frequentemente consumidas pelos animais, não causando-lhes qualquer problema aparente.

Segundos técnicos da área, os lucros obtidos com a cultura de pinhão manso variam conforme a região de cultivo devido a flutuações nos valores de insumos, mão-de-obra e mudas. Na região de Barbacena, o Projeto Jatropha, que incentiva o plantio de pinhão manso, e é liderado pela Fusermann Biodiesel, vem analisando o cultivo da planta desde 2005. Foi observado que o lucro do produtor deve girar em torno de R$ 963,00/ha/ano com a exploração da cultura destinada à produção de biodiesel.

Com informações da Embrapa Gado de Leite.

FONTES:

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