segunda-feira, 23 de março de 2009

Projeto experimenta cultivo de pinhão manso associado a pastagem

A Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-MG) participa de um projeto para o cultivo de pinhão manso consorciado a braquiária, que está sendo desenvolvido pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a Refinaria Nacional de Petróleo Vegetal - Fusermann Biodiesel, e a Universidade Federal de Viçosa (UFV). O objetivo é associar o cultivo da planta, de cujo fruto se extrai o óleo para fabricação de biocombustível, à pecuária leiteira.

O sistema traz vantagens adicionais para o produtor familiar, ao proporcionar diversificação de renda, segundo técnicos especialistas. O programa é financiado com recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), que investiu R$ 45 mil no projeto.

Segundo o coordenador técnico regional da Emater-MG de Juiz de Fora, Antônio Domingues de Souza, tudo começou a partir de uma parceria entre a Embrapa Gado de Leite e a Fusermann Biodiesel, empresa sediada no município de Barbacena. Há 15 anos, a refinaria procurou a Embrapa, que trabalha com sistemas silvipastoris (pastagens consorciadas com espécies arbóreas/arbustivas), para propor um convênio de cooperação técnico-científica, com vistas a aprofundar conhecimentos referentes à viabilidade da associação do pinhão manso com a produção de forragem.

De acordo com o pesquisador da Embrapa Gado de Leite, Carlos Renato Tavares de Castro, membro da equipe responsável pelo projeto, a intenção "é gerar informações que possam esclarecer sobre a polêmica de que áreas destinadas à cultura de matéria-prima para biocombustíveis competem, ou não, pelo espaço destinado à produção de alimentos para a sociedade".

As atividades do projeto começaram no mês de janeiro deste ano, com o plantio consorciado de pinhão manso e braquiária, numa área de dois hectares e meio, em um campo experimental da Embrapa, no município de Coronel Pacheco, Zona da Mata mineira. No local, estão sendo testados diversos espaçamento do consorcio. Tanto pelo método tradicional (semeadura a lanço) ou conforme os preceitos da Integração Lavoura-Pecuária-Floresta, conhecida nos meios técnicos como ILPF, em que se aplicam sub-doses de herbicida na pastagem já existente e faz-se o plantio direto na palha (no caso, a semeadura do milho), sem arar e nem gradear o solo.

A proposta é que a área destinada à pesquisa seja utilizada como unidade demonstrativa para treinamento dos extensionistas da Emater-MG e em futuras visitas técnicas de produtores rurais. As atividades estão sendo negociadas entre os parceiros envolvidos no projeto, segundo informações da Embrapa. A empresa considera que o pinhão manso é uma das mais promissoras espécies oleaginosas passíveis de utilização como matéria-prima para fabricação de biodiesel.

Para o coordenador técnico regional de Meio Ambiente da Emater-MG, o engenheiro florestal Gilberto Malafaia, além dos aspectos econômicos e estratégicos envolvidos, o uso de combustíveis de origem não fóssil é uma das formas de preservação ambiental. "A liderança brasileira na produção e o uso de biocombustíveis já é reconhecida internacionalmente", argumenta. "Ademais, o sistema de consorciação proposto é de adoção viável para a agricultura familiar, possibilitando a diversificação de renda, por meio da obtenção de dois produtos: animal e florestal", reforça o pesquisador a Embrapa, Carlos Renato Tavares de Castro.

Segundo o coordenador da Emater-MG, Souza, apesar de o sub-produto da extração do óleo de pinhão para fabricação de cosméticos (torta), ser tóxico para os animais, é rico em proteína e já existem estudos para torná-lo viável ao consumo animal. "Existem resultados parciais promissores quanto ao desenvolvimento de técnicas de destoxificação desse material para viabilizar o seu uso na alimentação animal", informa.

De acordo com os técnicos envolvidos no projeto, o os resultados do projeto deverão ser conhecidos num prazo de até três anos e caberá à Emater-MG divulgar o sistema silvipastoril entre os produtores rurais. "Vamos avaliar se a alternativa é realmente interessante para o pecuarista e, se for, vamos divulgar", informa o coordenador da Emater-MG, Antônio Domingues. Segundo ele, os extensionistas irão receber treinamento específico sobre a nova cultura e orientação sobre o manejo do sistema proposto, para posterior divulgação da tecnologia e assistência técnica aos produtores interessados em adotá-la.

PINHÃO MANSO

De acordo com a publicação Cultivo de Pinhão Manso Para Produção de Óleo Combustível, de Luiz Antônio dos Santos Dias e colaboradores, a planta pertence à família Euphorbiaceae, a mesma da mandioca, mamona e seringueira, sendo um arbusto de crescimento rápido, que pode atingir de três a cinco metros de altura. Ao ser consorciado com pastagens, o gado pode ser inserido no sistema tão logo as plantas atinjam altura de 50 cm.

Essa espécie arbustiva libera látex, um líquido leitoso que é tóxico e pode queimar a pele. Mas segundo o pesquisador da Embrapa, Carlos Renato Tavares de Castro, a presença do látex pode estar relacionada ao fato de os animais não consumirem as folhas quando ainda verdes e presas à planta mãe, vantagem adicional ao sistema por possibilitar a introdução precoce dos animais nas áreas consorciadas, sem necessidade de proteção das mudas contra pastejo ou danos físicos causados pelos animais. Ainda, relatos de pecuaristas que já possuem o Pinhão Manso em suas pastagens atestam que as folhas secas, caídas ao chão, são frequentemente consumidas pelos animais, não causando-lhes qualquer problema aparente.

Segundos técnicos da área, os lucros obtidos com a cultura de pinhão manso variam conforme a região de cultivo devido a flutuações nos valores de insumos, mão-de-obra e mudas. Na região de Barbacena, o Projeto Jatropha, que incentiva o plantio de pinhão manso, e é liderado pela Fusermann Biodiesel, vem analisando o cultivo da planta desde 2005. Foi observado que o lucro do produtor deve girar em torno de R$ 963,00/ha/ano com a exploração da cultura destinada à produção de biodiesel.

Com informações da Embrapa Gado de Leite.

FONTES:

Emater-MG
Assessoria de Comunicação da Emater-MG
Telefone: (31) 3349-8021

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