quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Biodiesel: para cada região, uma solução

A produção de matéria-prima para o biodiesel não precisa ser restrita aos grandes produtores ou a apenas uma cultura. As pequenas propriedades familiares e as entressafras, se bem aproveitadas, podem garantir ao Brasil a auto-suficiência energética sustentável.

“Exportar biodiesel nas atuais condições é ambientalmente insustentável. A substituição de importação é o objetivo imediato do setor”, garantiu Univaldo Vedana, analista de biodiesel do portal BiodieselBR.com.

A escolha da cultura de acordo com o mais adequado para cada região é essencial. Além de resultar em maior produção de óleo por hectare, não exige que o agricultor abandone os alimentícios ou mude radicalmente sua maneira de trabalhar.

“Só não podemos continuar cometendo erros previsíveis como a mamona no Rio Grande do Sul ou o girassol no Nordeste. Plantas anuais no Nordeste são um problema. Sem contar que plantar mamona no verão lá seria deixar de produzir arroz e feijão; como dar a arma ao bandido”, disse Vedana.

A agricultura familiar é solução viável ao abastecimento da indústria de biocombustível e pode levar emprego e renda ao campo. Embora a primeira tentativa governamental – a mamona – não tenha sido muito bem sucedida, o cultivo em pequenas propriedades ainda pode garantir vantagens econômicas, sociais e ambientais na produção de óleo vegetal.

Pinhão manso, leucena e moringa são exemplos que poderiam ser muito bem aproveitados pela região Nordeste. São indicados para áreas secas, não dependem de chuvas regulares e são adequados ao plantio em associação. Abóbora, gergelim, feijão guandu e outros, quando plantados em consórcio, são beneficiados da sombra e camada vegetal proporcionadas pelas oleaginosas.

Ademais, o cultivo em consórcio incrementa a renda dos produtores e alavanca a produção alimentícia. A demanda por mão-de-obra ainda acresce empregos ao campo e ajuda a fixar renda no local. A preocupação justifica-se do ponto de vista ético: a segurança energética deve se aliar à segurança alimentar e não desestabilizá-la.

A região Norte seria beneficiada com a produção do dendê. Entre outras plantas nativas, ele poderia ser utilizado para reflorestamento de áreas desmatadas pela pecuária, que se degradam rapidamente. “Só o estado do Pará estaria apto a produzir todo o biodiesel necessário para o país”, afirmou Donato Aranda, engenheiro químico e coordenador do Laboratório de Tecnologias Verdes (Greentec) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

No Sul, está comprovado o sucesso da canola, da linhaça, do nabo forrageiro e do girassol de primavera. No Centro Oeste, como em Goiás, a produção de girassol também foi eficaz. Nas áreas em que o plantio de soja ou milho já foi implantado, é possível utilizar-se da entressafra para o cultivo de plantas como girassol, amendoim, canola, crambe e linhaça.

Tal método evita o desmatamento por aproveitar as áreas já utilizadas pela safra de verão e funcionaria como uma resposta rápida à demanda das usinas. O empobrecimento do solo acaba retardado pelo processo, que é mais rápido nas monoculturas.

A agricultura mecanizada pode ajudar as grandes usinas a suprir os centros de maior demanda energética e, mais tarde, a exportar. Enquanto isso, a agricultura familiar encarrega-se de produzir variedade de oleaginosas, gerar emprego no campo e também alimentar as pequenas usinas regionais, evitando maiores gastos com transporte e driblando possível falta de infra-estrutura.

As pequenas usinas são viáveis à produção de energia para cooperativas e municípios. Possibilitar o desenvolvimento local não só gera distribuição de renda como garante melhor aproveitamento do potencial do país. As pequenas usinas são aliadas à retenção de riquezas locais e agregam valor à produção agrícola.

O uso inteligente das terras brasileiras pode assegurar ao país alimento e energia com vantagens sociais e ambientais. “Falta um Estado indutor, com política agrícola satisfatória”, colocou Vedana. São precisos, no entanto, revisão da carga tributária, concessão de benefícios e políticas agrícolas específicas e regionais para que o plano dê certo.

Por Nina Adorno

Fonte: Blog BioDolares

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