quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Diversos sobre Mamona e biodiesel

O blog do Luis Nassif* faz uma ótima analise sobre a questão da mamona como matéria-prima para o biodiesel e trás um apanhado sobre a questão.

Afinal, a mamona é a oleaginosa adequada para o biodiesel? Esta semana, uma reportagem da “Folha” informava que a ANP (Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) considerou-a inapropriada.

Em março deste ano, a ANP divulgou a resolução nº 7, indicando que a mamona não se enquadraria nos parâmetros técnicos para a produção do biocombustível. Isso por causa da alta densidade do insumo, diferente dos óleos extraídos, principalmente, da soja, pinhão manso e algodão.

A mamona é de alta viscosidade, servindo para aplicações muito mais nobres. Embora esse mercado especial não seja dos mais relevantes, é provável que uma produção mais sistemática de óleo de mamona acabaria sendo desviada para aplicações de melhor rentabilidade.

Mesmo assim, a Embrapa mantém pesquisas e defende matéria-prima

***

Em entrevista a Lílian Milena, do Projeto Brasil), o Chefe de Negócios da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária/ Embrapa Algodão, Liv Soares Severino, continua apostando na planta. Há 18 anos ele realiza pesquisas com mamona. E, para ele, a alta viscosidade não cria problema para continuar a utilizar o seu óleo.

“O Brasil, por exemplo, sempre produziu o óleo a partir da planta, temos tradição no cultivo sendo que entre as décadas de 70 e 80 o país era o principal produtor no mundo. Já a partir de 6 há 7 anos para cá, a mamona passou a ser aplicada na fabricação do biodiesel”, explicou.

***

A quantidade do óleo que pode ser adicionado ao diesel convencional e sem comprometer a qualidade de combustível é de até 40%. Se hoje a indústria do setor utilizasse toda a mamona produzida para este fim, chegaríamos a um índice de 6% em relação ao total de oleaginosas usadas no biocombustível, “mesmo com a densidade natural do insumo”, ressalta o pesquisador.

Por enquanto, o problema maior é que o país não consegue produzir o suficiente para atender a demanda atual, a maior parte da qual para a indústria química.

***

A Embrapa Algodão participa de um grupo de pesquisas na Espanha. Lá, foi descoberta uma linhagem de mamona típica do país europeu que não tem o mesmo problema de viscosidade que as espécies brasileiras. “É claro que antes de aplicarmos essa nova variação no país precisamos respeitar um processo legal de quarentena da planta em laboratórios onde serão feitas investigações para ver se a espécie carrega algum tipo de inseto ou doença”, complementou.

***

O Ministério de Minas e Energia também rebateu a informação de que o governo federal teria desistido de trabalhar em pesquisas e na possível implantação da mamona. Segundo o MME, ainda há alternativas e ajustes que precisam ser feitos para adequação.

Para utilizar a mamona seria necessário adicionar outro tipo de produto até chegar a uma densidade compatível para misturar ao diesel ou para se obter o biodiesel, de acordo com dados da ANP.

Até fevereiro, a mamona participava apenas com 0,17% da produção total do biodiesel que atende o mercado, enquanto a soja representava cerca de 68,41% do setor (hoje tem participação de 77,35% dos insumos usados).
Mas o próprio MME explica que a queda da participação da mamona se deve ao aumento de preços no mercado internacional.

Por Tio Almir da Bahia

Para quem quiser mais informações sobre o tema, estará acontecendo na semana que vem, de 04 a 07 de agosto, o III Congresso Brasileiro de Mamona aqui em Salvador, no Bahia Othon Palace ( não é brinquedo não!). Veja mais informações no link abaixo. clique aqui

Eu participo de um projeto de biodiesel a partir da mamona lá nos sertão da Bahia, no Raso da Catarina (terra aonde Lampião se escondia).

Todos os pesquisadores me alertam sobre este detalhe de que a mamona presta mais para lubrificante do que para combustível. Porém, o que vejo mais vantagem na mamona é o fato de ser um combustível social: ela nasce até no meio da caatinga!

Como diria Djavan: Qualquer sujeito, sem eira nem beira, tem lá no fundo do quintal, um pé de macaxeira....

Nassif,

V. faz muito bem de trazer a mamona à baila. O commoditie traz oportunidade rara p/ produtores no NE, inclusive, como se sabe, uma componente de fator social extraordinária.

Por Xikito Affonso Ferreira

Vc. faz bem de apontar a notícia da Folha porque arriscamos nos deixar arrastar, de novo, pelo jornalismo do catatstrofismo. Se mamona vale mais p/ lubrificante do que como combustível, ótimo. Mas a grande notícia p/ o país é a saca a R$ 45 ou 70, que assim se habilitam um monte de terras hoje sem uso.

Andei pesquisando ensaiando p/ entrar no mercado da mamona, nele impera a improvisação completa. Não se questiona produtividade, não se ousa no investimento com melhores sementes e práticas, etc. Mamona no Brasil ainda é pouco mais do que extrativismo.

Por Dalmace

Se a mamona é tão ruim assim como estão falando, porque a Petrobrás acabou de inaugurar uma fábrica de biocombustíveis em Candeias, na Bahia ?

A fábrica tem capacidade para produzir 57 milhões de litros de biodiesel por ano, que vai se basear quase exclusivamente na agricultura familiard, no total, 55 mil agricultores 215 municípios da Bahia e de Sergipe foram cadastros para fornecer as matérias-primas para a usina. Clique aqui.

Por Adrian Hänzi
Diretor Gerente BOM Brasil Óleo de Mamona

Prezado Sr. Nassif,

leitor assiduo do seu blog, gostaria de passar informações sobre o setor da Ricinoquimica. anexo segue um artigo de entrevista recente.

Brasil tem grande potencial para rícinoquimica

A cultura da mamona tem um potencial ainda não mensurado para a economia brasileira. Apesar dessa oleaginosa ter entrado recentemente na pauta nacional para a produção de biodiesel, ela tem de longa data uma grande importância na produção de derivados (ricinoquímica) e em outros setores da indústria. Essa constatação pode ser feita com os grandes investidores do setor que estarão em Salvador, entre os dias 04 e 07 de agosto, participando do 3º Congresso Brasileiro da Mamona.

“A produção nacional de baga de mamona pode tranqüilamente crescer para 200.000 toneladas métricas, beneficiando a agricultura familiar e o parque industrial instalado. O que precisamos realmente hoje no país é aumentar a safra e a produtividade da cultura no campo, o que pode ser alcançada fazendo com que os resultados das pesquisas da Embrapa cheguem ao produtor”, diz Adrian Hanzi, diretor-executivo da BOM - Brasil Óleo de Mamona.

O crescimento da demanda pelos derivados da mamona pode ser notado observando-se apenas os dados de importação de óleo de mamona pela empresa dirigida por Hanzi no primeiro semestre deste ano. Foram dez mil toneladas métricas compradas diretamente da Índia. Pelo levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a produção nacional deve girar em torno das 70 mil toneladas de baga de mamona em 2008.

“Os derivados de óleo de mamona produzidas pela ricinoquímica agregam muito mais valor ao óleo de mamona. A empresa continua investindo em novos produtos e melhoria de processos, para se ter uma idéia, só neste ano serão mais de 800 mil reais”, revela o industrial. Hanzi enfatiza que a safra brasileira de mamona precisa crescer, porque a demanda internacional esta crescendo, sobretudo na China, devido a alta dos preços de petróleo, o desenvolvimento de suas aplicações, e porque Índia, o maior produtor mundial de mamona, precisa produzir mais alimentos, incluindo mais óleos vegetais comestíveis, e portanto a possibilidade de crescimento da safra neste pais começa a ficar limitado.

“Precisamos juntar os esforços entre Embrapa, Secretarias estaduais de agricultura, MDA, Conab, indústrias, municípios e agricultores para trabalhar as deficiências que o setor tem, como carência de semente certificada a preços accessiveis, manejo e rotação, assistência técnica e credito, entre outras. Considero que é uma grande oportunidade de gerar renda para o campo, e para todo o setor, uma oportunidade que não deve ser desperdiçada.

A Embrapa deve, na minha opinião, coordenar um programa de pesquisa e promoção da mamona igual que a Índia está fazendo nos últimos 35 anos, com melhoria permanente da semente, em beneficio do agricultor”, defende o executivo.

Vantagens da mamona

Adrian Hanzi diz que o óleo extraído da mamona é “único” entre todos os óleos vegetais por causa de sua composição química especial, por ser o único que contém um ácido graxo hidroxilado (ácido ricinoléico) “Ele confere uma grande versatilidade e permite substituir derivados de petróleo, tendo como grande vantagem o fato de se tratar de uma fonte de matéria prima renovável. O óleo da mamona é muito utilizado na produção das graxas para motores, como também na composição de tintas, cosméticos, poliamidas, detergentes, pigmentos, colas, resinas, poliuretanos, peças automotivas, cabos para telefonia etc. “Há uma pesquisa na USP que desenvolveu próteses à base do óleo da mamona, ficando comprovado que esse material agride muito menos o corpo humano”, acrescenta.

Fonte: Blog do Luis Nassif

* Luis Nassif foi introdutor do jornalismo de serviços e do jornalismo eletrônico no país. Vencedor do Prêmio de Melhor Jornalista de Economia da Imprensa Escrita do site Comunique-se em 2003 e 2005, em eleição direta da categoria.

Ler também:
Os percalços enfrentados pelo Biodiesel no Brasil
MAMONA PERMANECE COMO OPÇÃO PARA PRODUÇÃO DE BIODIESEL

Nenhum comentário: