terça-feira, 5 de agosto de 2008

Camalote do Pantanal pode virar bioenergia do futuro

Embrapa estima que anualmente 1 milhão e 700 mil toneladas de camalotes desçam o rio.

Eles fazem parte do cenário do rio Paraguai. Descem mansamente o canal, rio abaixo, com destino incerto. Parecem poucos, porque flutuam isoladamente quando se desprendem das baías, mas são milhares no período do pico da cheia, entre março e junho. Agora são estudados como biomassa para biocombustível

O biólogo Ivan Bergier Tavares de Lima, pesquisador de tecnologias em bioenergia e geociências da Embrapa Pantanal (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) estima que anualmente 1 milhão e 700 mil toneladas de camalotes desçam o rio.

É um volume importante para o trabalho que apresentou no final de julho na Conferência Internacional sobre Áreas Úmidas (o 8º Intecol), que reuniu cerca de 600 pesquisadores de todo o mundo em Cuiabá, Mato Grosso. Bergier estuda a utilização do camalote como biomassa para biocombustível.

São dois tipos de plantas flutuantes que crescem nas baías do Pantanal, vão de desprendendo e tomam o canal do rio Paraguai. Levam o nome científico de eicchornia crassipes e ciperáceas, mas são popularmente conhecidas como camalotes ou água-pé, nome indígena que significa “levado pelo rio”, e já estão incorporadas à paisagem pantaneira.

É uma planta de reprodução rápida. “As ciperáceas são diferentes porque possuem solo. Como a cada ano cresce e morre, dentro deste ciclo natural acaba formando um solo submerso, que serve de abrigo para animais, como cobras, e insetos pegam uma carona e descem o rio sobre elas. Até cervos já foram vistos viajando sobre as ciperáceas”, explica o pesquisador ao Diário Corumbaense.

Com a ajuda de uma câmera colocada na margem, na chamada curva da Marinha, em Ladário, Bergier realizou longas filmagens para ter uma idéia do volume de plantas que descem o rio Paraguai – a quantidade é muito maior durante a cheia do Pantanal, inclusive com bancos maiores. Elas seguem a calha do rio na parte mais funda, onde é maior a velocidade.

“Os pilotos pantaneiros costumam dizer que basta seguir o camalote para não se ter problema, porque ele sempre desce pela parte mais funda, e mais rápida, do rio”, destaca o pesquisador.

Grande parte dessas plantas fluem e vão parar em Porto Murtinho. Ainda não se sabe o que ocorre, se elas se decompõem durante o trajeto, no corpo d’água, ou se vão parando e fazem parte na circulação de matéria, de alimento ou de abrigo para algumas espécies.

“A função delas na baía nós já sabemos, é exatamente essa, têm um papel importante na dinâmica do ecossistema. Mas ainda pesquisamos sobre sua função ecológica quando ela entra no canal do rio, principalmente jusante (ao longo do curso do rio até à foz)”, afirma o pesquisador. “Em Porto Murtinho, que recebe um grande volume dessas plantas aquáticas, elas chegam a fechar o canal, provocam bloqueios para a navegação”, acrescenta.

Outra questão em estudo sobre a biomassa é saber se estará sempre disponível para gerar energia, porque o maior volume de camalotes que descem o rio está diretamente associada às cheias do Pantanal. “Vai depender do ciclo hidrológico”, observa Bergier. Por isso o estudo inclui uma pesquisa detalhada sobre a oscilação das cheias. “Depois do período da seca na década de 60, e depois das cheias em 1974 e 1975, os níveis máximos permaceram relativamente mais altos depois do período de seca.

Com a manutenção de volume de água e a flutuação das plantas que descem o rio Paraguai, haveria uma biomassa disponível, para ser usada como fonte de energia para a indústria ou mineração, matéria-prima para o desenvolvimento sócio-econômico regional. Outro estudo importante está focado em se saber a dimensão dos impactos, segundo Bergier.

“Temos alguns cálculos que vão depender do volume e dos impactos, porque eventualmente pode haver uma fauna associada a essas plantas, como cobras, insetos, por isso tudo deve ser muito bem detalhado antes de iniciarmos a 'corrida ao camalote'”, destaca o pesquisador.

Biomassa vegetal - A biomassa formada pelo camalote vem merecendo estudos aprofundados da equipe da Embrapa, segundo o pesquisador Ivan Bergier. Futuramente pode servir como alternativa para o uso do carvão vegetal e a cana-de-açúcar como fonte de energia. “De um lado é muito úmida, mas tem mais celulose. Dependendo da finalidade de energia, pode se produzir hidrogênio, metano ou se fazer carvão de biomassa vegetal. Pode ser utilizada para gerar hidrogênio e metano, para gerar biocombustível.

Deve ser analisado o poder calorífico do camalote. Tudo é questão de demanda e sustentabilidade ambiental. Não se sabe quanto poderia suprir a energia, mas deveria minimizar o desmatamento ou minimizar o uso de carvão de eucalipto. Tudo isso vai depender da quantidade e da sustentabilidade ambiental a jusante (rio abaixo), esse é o ponto crítico.

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